sexta-feira, fevereiro 24, 2006

E que tal subir ainda mais o nível.

Antes de analisar e discordar em grande parte deste texto, queria dizer uma coisa importante, mas muito importante mesmo. De nada nos serve ler os livros que nos iniciam e prolongam na viagem pelo mundo da filosofia se não formos capazes de materializar essa leitura. Incorporar o que lemos de forma límpida e translúcida naquilo que pensamos. O que eu quero dizer com isto é que a leitura será pouco benéfica se depois o leitor não regurgitar essas palavras já com a sua essência (do leitor).
Este conceito estrito do saber literário é (tal como o relativismo...eheheh) contraproducente para a evolução, porque a ideia de que para termos opinião temos obrigatoriamente de nos basear na de outros já aceites é até paradoxal (principalmente no campo da filosofia) tendo em conta os pioneiros do conhecimento.

Bem, mas analisando o relativismo esse mal que assola as mentes dos Tugas e outros demais.
Também eu concordo com o caro CMF, devemos saltar para o próximo nível nesta encruzilhada de ofendidos e ofensivos, mas eu acho o salto que este deu muito curtinho, aliás nem saiu do chão. Eu queria dar o salto para a racionalidade de estar bem consigo mesmo, porque raio temos de enfatizar um pretensa superioridade da nossa civilização, essa necessidade de superiorização é uma manifestação de inferioridade. É que sentimo-nos tão inferiores que tivemos de dizer em alto som que somos superiores, superiores em quê? A superioridade de civilizações é uma visão estupidificante, porque a superioridade de uma civilização é já uma injusta generalização duma sociedade. Mas que raio, então eu que vivo numa sociedade tenho de ir por arrasto com os ditames dessa sociedade, nesta sociedade "superior" não posso usar a minha liberdade para me desprender do statuos quo?
Numa altura em que agredimos comunidades do mundo Árabe vamos reclamar para nós (também agressores) a superioridade? Será que foi essa mesma superioridade que nos conduziu ao ataque? Pois é, também estou a fazer uma generalização injusta da nossa sociedade, mas para essa generalização injusta já haverá boas alminhas ocidentais aos magotes para me corrigirem nesse aspecto.

Então relativismo impede a autocrítica...e o meu caro anti-relativista não foi capaz de ter o sentido de autocrítica em relação ao nosso querido Ocidente. Diz que existe debate e livre pensamento, agora suba de nível e incorpore essas conquistas nos debates televisivos das televisões (salvo raras excepções), o que é feito em nome da liberdade económica, o que é feito em nome da religião, que separação existe mesmo entre Estado-Igreja (não são raras excepções)...parece-me muito pouco autocrítico, mesmo na minha visão de relativista.
Generalizou qualidades do Ocidente de uma forma tão superficial que se for necessário eu refuto uma por uma. Porque a sociedade da liberdade também não é, se quisermos ser rigorosos...e não me comprazo com isto obviamente.

Esses revisionismos históricos para corroborar um choque de civilizações são de extremo humor, porque se por um lado reclama para o Ocidente a capacidade de evoluir e "predisposição para o aperfeiçoamento", na altura de corroborar a sua visão não se inibe em recuar em termos evolutivos (sim evolutivos, democracia, sabedoria, diplomacia...) para os tempos da Antiga Grécia (uma grande civilização é certo, mas não deixa de ser um recuo evolutivo).
Além disso o meu caro faz tábua rasa da intelectualidade dos que se opõe à sua visão, estar contra este choque de civilizações não é menosprezar as conquistas da nossa sociedade é até guardá-las com grande prazer. Só que uma das conquistas que eu mais prezava era a paz, o meu caro também preza essa tanta como eu? O choque que têm de haver é diplomático é no campo da argumentação, não é esta "superioridade agressiva" dos nossos tempos.


"...“sousassantistas” contra a ciência; a ideia de estado-nação, que parece dar credibilidade a qualquer reivindicação de meia dúzia de pessoas cuja especificidade cultural ou étnica pode ser a troca de uma letra por outra, continua em alta; e o transpersonalismo resiste às tentativas de liberalizar definitivamente as nossas democracias.."

Este tipo de argumentação de que os outros são contra é muito pouco relevante para quem quer debates sérios, eu podia desatar aqui a dizer que os outros com os quais não concordo estão contra não sei o quê, numa tentativa de estupidificar o debate e enaltecer a minha posição na pura e simples demagogia de não estar como os outros contra isto.

Já agora incorpore o obscurantismo da religião no relativismo...ou será que aí não há obscurantismo?

"...porque a doutrina, usada com rigor, não permite que se façam escolhas filosóficas como as expressas nesse mesmo texto."

Se calhar antes de negar o relativismo convinha perceber bem o que ele é. O relativismo é tolerante para com ideias diferentes, ele assume uma perspectiva mundana, no sentido em que a realidade pode ser diferente daquilo que percepcionamos e que o sujeito que as percepciona é como um aparelho que nos induz em erro, pois é falível e impreciso. Se a realidade pode ser diferente daquela que nós pensamos porque não admitir que acha pontos de vista divergentes. Se calhar está aí o cerne da questão. O meu caro acha que ao tolerarmos visões antagónicas não podemos defender as nossas? Se for isso algum dogmatismo pode ter atacado o meu caro...

"Relativismo tem tanto valor como o Solipsismo, por exemplo: é irrefutável, arrogante, absurdo e circular. Um relativista é um caso relativista, fechado sobre si próprio."

Mais uma vez o meu caro não subiu o nível, o relativismo é precisamente a abertura, é permitir a opinação do outros sem que se oponha um dogma que aniquile a discussão (diga-se que a resposta que me deu de um meio termo entre dogmatismo e relativismo é muito pouco satisfatória, talvez muito relativista).
Precisamente porque se permite a discórdia é que se evolui, se fizermos essas negações "evidentes" à partida não tínhamos descoberto as "evidências" de hoje. E é sobre este aspecto fundamental que querem fazer tábua rasa, é que o relativismo absoluto é uma impossibilidade e não é preciso grandes argumentos para perceber isso. Mas o relativismo moderado não o é, ao se declarar anti-relativista está no seu direito, mas não abordou a dualidade dentro do próprio relativismo, logo a sua posição fica mais fragilizada. Sim, porque eu sou relativista e privilegio e muito a argumentação, ela é interacção na qual analisamos a sequência lógica do pensamento.

"Os factos históricos do século XX podem ser usados como argumento no sentido de relativizar a posição da civilização ocidental na escala moral."

Lá está, o revisionismo histórico do meu caro é legítimo mas o dos "relativistas" não é, interessante...muito interessante mesmo. Podemos usar uma sociedade como a Grécia Antiga para compreender a actualidade e corroborar um choque civilizacional mas não podemos rever os males do Ocidente para perceber a fragilidade da nossa "superioridade". Sim senhora...no bom caminho.

"Quem aprende desde juvenil idade a raciocinar numa perspectiva colectivista, sem nunca se sujeitar a um choque ideológico, dificilmente aceitará todas as consequências do valor da Liberdade."

Uma pérola...
Ou seja os esquerdalhos não se querem sujeitar ao choque ideológico...isso é uma pérola sem precedentes. Atente-se nas eleições presidenciais e a quem quis fugir ao "choque ideológico" e atente-se também que se quer evitar um choque de cadáveres não um choque de ideológico, aliás choque ideológico já existe.
Uma das consequências da liberdade é não querer a guerra e os cadáveres sobre os quais a nossa "superioridade" é sustentada, querer a paz é aceitar a consequência mais feliz da liberdade.

"Ou seja, esmiuçadas as parangonas relativistas, encontramos uma dicotomia Bem/Mal cujo simplismo nada deve àquela que, por vezes, nos chega do outro lado do Atlântico."

Mais uma pérola...
O meu caro usa um discurso de uma dualidade simplista de superior/inferior (e já demonstrei aonde reside o simplismo) mas não gosta desta dicotomia Bem/Mal, que eu não reconheço no relativismo. Aliás o relativismo tem servido mais no sentido de argumentar que o Islão não tem sido tão "mauzão" quanto parece nem o Ocidente tão "bonzinho" quanto parece, ou seja o relativismo tem servido para se opor a esse simplismo que também não me agrada.

10 comentários:

Anónimo disse...

"...na altura de corroborar a sua visão não se inibe em recuar em termos evolutivos (sim evolutivos, democracia, sabedoria, diplomacia...) para os tempos da Antiga Grécia (uma grande civilização é certo, mas não deixa de ser um recuo evolutivo)."
Não acredito em teorias progressistas da História, logo esta frase não faz sentido. E o João só a pode sustentar quando demonstrar que existem leis da História, algo que ninguém conseguiu fazer.

"...numa tentativa de estupidificar o debate e enaltecer a minha posição na pura e simples demagogia de não estar como os outros contra isto."
Não, não estou mesmo com os outros. Não alinho no discurso contra a Ciência (já leu o livro do Sousa Santos?); desprezo o direito à auto-determinação (e tudo o que vem atrás, desde os tiros da ETA até ao absurdo da situação balcãnica); e recuso o transpersonalismo, pois prefiro os homens ao Homem (sem essa posição toda a atrocidade é possível).´

"Já agora incorpore o obscurantismo da religião no relativismo...ou será que aí não há obscurantismo?"
Eu sou ateu.

"Se calhar antes de negar o relativismo convinha perceber bem o que ele é." Eu disse: "...porque a doutrina, usada com rigor, não permite que se façam escolhas filosóficas como as expressas nesse mesmo texto. Com rigor, repito. Se vamos construir outros relativismos, como o João faz, a conversa pode ser outra.

"Lá está, o revisionismo histórico do meu caro é legítimo mas o dos "relativistas" não é, interessante...muito interessante mesmo." Acho que não percebeu o tom do texto. Lei outra vez, por favor. Eu estava a referir aquilo que os outros fazem, não eu.

"Ou seja os esquerdalhos não se querem sujeitar ao choque ideológico..." O colectivismo não está limitado aos "esquerdalhos". (e usar essa expressão, como se tivesse vindo da minha boca, parece-me um recurso à Falácia do Homem de Palha, o João constrói um Homem de Palha para melhor me atacar; por favor, não vá por aí).

"Aliás o relativismo tem servido mais no sentido de argumentar que o Islão não tem sido tão "mauzão" quanto parece nem o Ocidente tão "bonzinho" quanto parece, ou seja o relativismo tem servido para se opor a esse simplismo que também não me agrada." O relativismo tem servido para encontrar o Mal " do outro lado do Atlântico", tal como "eles" fazem em relação aos muitos Eixos. Era isso que eu queria referir: critica-se a dicotomia Bushiana do Bem/Mal, mas entra-se pelo mesmo caminho. Nem uns, nem outros me convencem.
Mas não é necessário o Relativismo para alguém se opor à dicotomia Bem/Mal. Basta o bom senso. (já em relação aos sistemas: o João tem algum problema em classificar monotonicamente um sistema democrático e uma tirania? Eu não.)

João Dias disse...

“Não acredito em teorias progressistas da História, logo esta frase não faz sentido. E o João só a pode sustentar quando demonstrar que existem leis da História, algo que ninguém conseguiu fazer.2

Nem precisa de “acreditar” em teorias progressistas da História, qualquer pessoa reconhece evoluções nas leis, condutas que regiam as sociedades. A sociedade da Grécia Antiga não escapa a esse facto, é tão simples como dizer que hoje evoluímos em relação ao tempo em que existia escravatura, será bastante consensual que isso se trata de uma evolução.

“Não, não estou mesmo com os outros. Não alinho no discurso contra a Ciência (já leu o livro do Sousa Santos?); desprezo o direito à auto-determinação (e tudo o que vem atrás, desde os tiros da ETA até ao absurdo da situação balcãnica); e recuso o transpersonalismo, pois prefiro os homens ao Homem (sem essa posição toda a atrocidade é possível).´”

Você diz que Boaventura Sousa Santos é contra a ciência, isso pura e simplesmente é mentira, ele poderá ter uma visão diferente da sua sobre ciência, mas não é contra a ciência. Nesse sentido o caro claramente estupidifica a visão de Sousa Santos, diz que ele é contra a ciência sabendo perfeitamente que dizendo isso gera maior consenso à volta do que diz (é a tal teoria do Homem Palha).

“Eu sou ateu.“
Também eu, mas o que eu queria é você tentasse analisar o obscurantismo na religião, é que o obscurantismo não é um mal do relativismo, é um mal por si só.

“Eu disse: "...porque a doutrina, usada com rigor, não permite que se façam escolhas filosóficas como as expressas nesse mesmo texto. Com rigor, repito. Se vamos construir outros relativismos, como o João faz, a conversa pode ser outra.”

Eu não construí conceito nenhum, o conceito de relativismo moderado já existe:

“A mi modo de ver, si bien es cierto que comparten un criterio sustantivo de la moral, del valor frente al procedimiento, la diferencia fundamental es que Taylor sostiene un relativismo moderado, mientras que los otros sostienen un relativismo extremo. En efecto, lo que plantea Taylor es justamente dudar de la exisrencia de una sola racionalidad universal. De ahí la necesidad de pensar en criticar esa tradición desde un lugar fuera de ella, es decir, desde otra cultura. Este relativismo moderado está respaldado por un enfoque hermenéutico antipositivista que rompe con la ideología de la imparcialidad. Ya desde sus primeros trabajos Taylor se preocupa por criticar el reduccionismo de las ciencias naturales que intentan explicar el comportamiento humano según los moldes científicos de la modernidad ilustrada .(6)”

(http://oea.ajusco.upn.mx/sarriaran1_i.html)

“Geertz ser situaría en una posición intermedia entre el universalismo procedimental vacío (cosmopolitismo sin contenido de la UNESCO) y un relativismo cultural radical que nos conduce al etnocentrismo provinciano y paleto). Y defiende un relativismo moderado que no concluye en un escepticismo de la comprensión , ni en un pirroismo moral que imposibilitaría el desafío moral actual.”

(http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/rafael_aguilera_portales.htm)


“Acho que não percebeu o tom do texto. Lei outra vez, por favor. Eu estava a referir aquilo que os outros fazem, não eu.”

O seu revisionismo histórico:
“Mas não foi um choque que fez nascer esta civilização, quando na Antiga Grécia, o conflito entre Oriente e Ocidente (outro!), trouxe consigo os refugiados perseguidos pelos persas?”

O revisionismo dos outros:
“Os factos históricos do século XX podem ser usados como argumento no sentido de relativizar a posição da civilização ocidental na escala moral."

“O colectivismo não está limitado aos "esquerdalhos". (e usar essa expressão, como se tivesse vindo da minha boca, parece-me um recurso à Falácia do Homem de Palha, o João constrói um Homem de Palha para melhor me atacar; por favor, não vá por aí).”

Em parte alguma eu disse que o CMF usou essa expressão, é bem claro que, lido o texto, sou eu que uso essa tirada irónica, a construir Homens Palha você já leva um grande avanço…e eu já exemplifiquei aonde e porquê.

“O relativismo tem servido para encontrar o Mal " do outro lado do Atlântico", tal como "eles" fazem em relação aos muitos Eixos. Era isso que eu queria referir: critica-se a dicotomia Bushiana do Bem/Mal, mas entra-se pelo mesmo caminho. Nem uns, nem outros me convencem.
Mas não é necessário o Relativismo para alguém se opor à dicotomia Bem/Mal. Basta o bom senso. (já em relação aos sistemas: o João tem algum problema em classificar monotonicamente um sistema democrático e uma tirania? Eu não.)”

Bem peço que me diga a que “eles” se refere?
Se se refere aos críticos da administração norte americana deve estar a falar de exemplos que desconheço, conheço posições críticas e fundamentadas em factos que estão à vista de toda a gente e relatados pela imprensa. Ser crítico não é defender uma apologia do Bem vs Mal, quem claramente entrou nessa dicotomia foi Bush com o célebre conceito de “Axis of Evil”.
O que tem sido feito é mostrar o ridículo dessa dicotomia, sim mesmo quem usa o relativismo. Você que fala em distinção de sociedade superior/inferior até devia ver essa dicotomia com bons olhos (ironia). È precisamente no sentido de desarmar essas dicotomias sociedade superior/inferior e Bem/Mal que se tem usado o relativismo. Mostrando que a nossa sociedade também é vista como agressora do lado lá e percebendo que já agredimos, de facto, o mundo Árabe.

Anónimo disse...

Lamento, mas o discurso de Sousa Santos é mesmo contra a Ciência. Nem é necessário ler os livros, basta olhar para vários artigos que ele publica em revistas nacionais para ver ataques furiosos à Ciência, como se esta fosse a fonte de todos os males do mundo (para não falar no facto de ele, aparentemente, só ver males no mundo). Uma visão diferente da ciência? Pois, relativizemos. Somos obrigados a aceitar qualquer "visão" da Ciência, por mais idiota que esta seja? Somos obrigados a aceitar uma visão da Ciência baseada em interpretações falaciosas de teorias científicas, caricaturização do reducionismo (a treta de "o todo é mais do que soma das partes", que pode fazer algum sentido num discurso menos formal sobre Complexidade, mas nunca ser a base de um novo paradigma da Ciência, ou lá o que é que BSS quer; e, além disso, Wolfram já foi por esse caminho, mas com seriedade), abusos de linguagem e banalidades bem vestidas? Somos obrigados a aceitar uma visão da Ciência que a equipara à astrologia como forma de interpretar o mundo? Não, obrigado. Um relativista aceita-o, eu não. Aceitar a "ciência" de Sousa Santos é recusar a Ciência.
(O seu Um Discurso Sobre as Ciência é quase criminoso na forma como explora a ignorância de muita gente em assuntos de Ciência para tentar passar uma mensagem ideológica; mas isso não é exclusivo de BSS, existe uma casta de cientistas sociais que se tem entretido nas últimas décadas a brincar com conceitos cietíficos; os seus textos seriam hilariantes, se não fossem, também, motivo de preocupação)

Essa do meu revisionismo histórico é que eu não percebo, sinceramente não percebo.

E, de uma vez por todas, convença-se que quando falo de sociedade superior/inferior, refiro-me à abertura das sociedades. Eu penso que uma sociedade aberta é superior. A sociedade ocidental é aberta, ao contrário de outras, logo é superior. E ficamos por aí. Não tem nada a ver com superioridade das gentes, da estrutura familiar ou social, ou outra coisa qualquer. É apenas isto: temos a sorte de viver numa sociedade livre; daqui a cem anos, ninguém nos diz que os papéis não se inverteram. Como disse, não acredito em teorias progressistas da História. Estamos muito bem hoje, mas podemos estar muito mal amanhã. E, se não começarmos a olhar com respeito para aquilo que atingimos (e que ainda pode melhorar, até atingirmos democracias verdadeiramente livres), então estaremos muito mal amanhã. Não há leis da História, mas dele podemos sempre aprender algumas lições.

João Dias disse...

A visão de Sousa Santos não é ignorante, muito pelo contrário, aprenda a respeitar a diferença...faz-lhe bem e também é uma das conquistas da nossa democracia.
Aliás aqui fica uma citação do livro de BSS "Um discurso sobre ciências":

"Se Einstein relativizou o rigor das leis de Newton no domínio da Astrofísica, a mecância quântica fê-lo no domínio da microfísica. Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar ou medir um objecto sem interfirir nele, sem o alterar, e a tal ponto que o objecto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou."


Mesmo em relação à abertura de sociedades, a questão da generalização não deixa de ser estupidificante. A nossa sociedade quando censurou David Irving e mostrou que também não é verdadeiramente aberta. Lá está, a sua visão redutora não se compadece com a realidade que observamos.

Anónimo disse...

Essa citação é uma das muitas que revelam a ignorância científica de BSS. Ele refere-se à Interpretação de Copenhaga e parece não conhecer outras. "Heisenberg e Bohr demonstram que...". Demonstram? BSS parece saber mais do que os físicos. E assim vai o "rei", nú, mas com toda a gente a aplaudir as suas roupas.

(não costumo respeitar a desonestidade intelectual; e BSS, ou é burro, ou é desonesto; como não acredito, nem me atreveria a considerar a primeira hipótese...)

João Dias disse...

É no entanto curioso que em termos de refutação do conteúdo não me tenha dita nada...

Anónimo disse...

Se o conteúdo é baseado numa premissa não demonstrada então é irrefutável, a não ser que se refute a premissa, o que está muita para além das minhas capacidades (e nem sei se a premissa é refutável). E a irrefutabilidade não é uma virtude.
BSS é que devia ser mais cuidadoso com o diz. Se eu não acreditar em Deus, não sou obrigado provar que ele não existe.

Ah, e essa de Einstein ter relativizado as leis de Newton é boa, muito boa. Lá está, Einstein refutou Newton´, ponto final. Mas não se pode esperar muito de BSS.

João Dias disse...

Einstein não refutou Newton, relativizou e complementou, BSS disse e bem que este relativizou Newton. Relativizou Newton no sentido em que preconiza uma visão em que as leis de Newton não se aplicam a todos os casos.
A Física Newtoniana ainda hoje é usada simplesmente faz-se a distinção entre esta e a Relativista.
Para velocidades na ordem da velocidade da luz usa-se a Física Relativista, para velocidades bastante inferiores usa-se a Física Newtoniana. Aliás a própria Física Relativista vai esbarrar na Newtoniana quando trata de velocidades pequenas (pequenas quandos comparadas com a luz).

O que Einstein pôs em causa foi a causalidade (o positivismo entenda-se), imagine que Einstein teve o seguinte pensamento:

"Conta-se que Einstein ia de eléctrico em Zurique, sentado voltado para trás, e enquanto via o
relógio da torre da Câmara Municipal a afastar-se teve a ideia de que se o carro em que viajava
fosse a uma velocidade superior à da luz, veria os ponteiros do relógio andar para trás (o que
seria contrário ao princípio da causalidade), tendo daí concluído que a velocidade da luz seria a
velocidade máxima possível de um objecto."

Anónimo disse...

"Relativizou Newton no sentido em que preconiza uma visão em que as leis de Newton não se aplicam a todos os casos."
A isso chama-se refutação. Dúvida, crítica e elaboração de uma nova teoria. Newton estava errado: as suas leis não eram universais. Se João Magueijo demonstrar as suas teorias da variação da velocidade da luz, estará a refutar Einstein. (claro que isso não tira mérito nenhum a Newton, o qual continua a ser, na minha opinião, um dos três ou quatro enormes nomes da Ciência; e Einstein é outro...)

Einstein elaborou uma nova teoria explicativa do universo. A teoria Newtoniana pode ser eventualmente considerada como um caso particular. Einstein não relativizou; as leis de Newton não passaram a ser "relativas". Passaram a ser incompletas. Claro que a BSS é útil recorrer a tal linguagem, tal como lhe é útil recorrer à Interpretação de Copenhaga para elaborar grandes teorias da "nova ciência" (talvez seja melhor dizer, "era útil", pois o livro já foi escrito há muito tempo, e o autor pode ter, entretanto, revisto posições).

Ah, e as teorias da relatividade, geral e restrita, não põem assim "tão em causa" a causalidade. Ambas englobam o determinismo, embora a teoria geral tenha alguns problemas em campos gravitacionais extremos. Mas, mesmo assim, é um problema que ainda está aberto. Tirando os casos extremos, as teorias parecem ser computáveis.

João Dias disse...

Não, não se trata de uma refutação, é uma relativização na medida em que a teoria Newtoniana é relativa a uma "realidade" e teoria relativa é relativa a outra.
Uma teoria relativa a pequenas velocidades outra para velocidades na ordem da luz.
A refutação de Newton implicaria que as teorias não seriam actualmente válidas, o que não é verdade, descobriu-se simplesmente que dizem respeito a uma realidade.
O caso de João Magueijo é diferente porque ele nega o pressuposto da velocidade da luz ser constante. Nesse caso daria-se um verdadeira refutação e a teoria de Einstein cairia por terra.

A diferença essencial será esta:

Einstein mantém a física newtoniana, apenas descobriu que se usa diferentes pressupostos para aquela "realidade".

João Magueijo contradiria a teoria de Einstein e isso implicaria que esta simplesmente deixasse de ser válida para a mesma "realidade" que preconizava.

Eu escrevi acima um post sobre o positivismo e de certa forma também se aplica ao determinismo. O determinismo é posto em causa por uma simples razão:
Este defende que existe SEMPRE uma relação causa efeito, que não somos livres, somos condicionadas ao mais ínfimo pormenor nas nossas decisões, atitudes etc. Por tanto basta dizer que NEM SEMPRE o determinismo se aplica para este ser posto em causa.
Por isso é verídico dizer que o determinismo foi posto em causa.

No entanto registo que existe diferentes graus de determinismo, o que é natural porque o determinismo deixou ser fonte única para ser parte complementar do processo:

" É necessário se perceber, que determinismos são defendidos em diferentes graus. Uma coisa é afirmar que algumas características básicas são dadas geneticamente, ou coisa seria afirmar que tudo (até mesmo a decisão sobre a cor da sua camisa) é resultado de mecanismos biológicos. Formas alternativas de determinismo seriam: determinismo ambiental (Skinner), determinismo sócio-econômico (Marx), determinismo psicológico, ou até mesmo um determinismo teológico: Deus determina o seu comportamento. Estes modelos podem ser até mesmo complementares: poderia se dizer que o comportamento humano é determinado pelas variáveis gens + ambiente, ou gens + estrutura psicológica, etc.
Contra o determinismo é defendida a tese do libertacionismo: O ser humano é livre para determinar suas ações."