sábado, novembro 25, 2006

Cenas da Língua


Andava eu a navegar pelo Netprof, à procura de materiais de apoio às aulas, quando encontrei um texto a elogiar o serviço público que a RTP efectua todas as sextas-feiras, logo a seguir ao Telejornal, com o programa "Cuidado com a Língua".
Ora:
porque gosto do programa e da maneira como está elaborado;
porque defendo a correcta utilização da Língua Portuguesa (Estão a ficar desconfiados?);
porque já AQUI manifestei o meu repúdio por aqueles que a querem "assassinar" (Hmm! muito suspeito!);
porque sou professor de Língua Portuguesa (Ah! está esclarecida a imparcialidade!);
resolvi postar o texto, visto que ao Netprof só pode aceder quem é professor e possui um login/palavra-chave.
Até pode parecer pedantismo da minha parte (partilhar aqui o texto, qual pedagogo esclarecido) mas, em minha defesa, devo dizer que nem todas as iniciativas respeitantes à LP me agradam: acho o Campeonato Nacional da Língua Portuguesa e o Plano Nacional de Leitura, por exemplo, uma autêntica palermice!
Mas, vou-me deixar de tretas e cingir-me ao essencial:

"A RTP lembra-se do português escrito e falado

Erros de toda a espécie lêem-se e ouvem-se constantemente nos «media». Os jornais e revistas, as rádios e as televisões não ajudam o Ministério da Educação, as famílias e os cidadãos, no que diz respeito a «boas práticas» no uso do português (e o Ministério não se ajuda a si mesmo). As televisões, pela sua desmedida influência nos nossos costumes, têm pesada responsabilidade, tais são os disparates de português (e de outras disciplinas e matérias) que o utente pode ou não detectar.
Após décadas de indiferença (só os velhos recordam as «Charlas Linguísticas» de Raul Machado), a RTP dá um sinal de sensibilidade ao problema, com o programa «Cuidado com a Língua!», da autoria de José Mário Costa (responsável pelo sítio ciberduvidas.sapo.pt). É emitido às sextas-feiras (21h) e retransmitido na RTP-África e na RTP-N (sábados, 22h) e na RTP Internacional (terças-feiras). Embora a duração seja curta (10 minutos) e a periodicidade semanal, tem privilégio de «horário nobre» e leva a crer que um canal de serviço público pode reconhecer que pecou e está disposto a emendar-se. Dir-se-á que esta TV (e as outras) devia submeter a totalidade dos programas, e não um só, ao crivo da exigência e a normas aceitáveis de competência linguística. Mas não sejamos maximalistas nem utópicos; já é positivo que uma estação se comece a preocupar, como é seu dever, com a defesa do consumidor contra a interminável cadeia de erros ou, muitas vezes, de rotundos disparates, que vão das legendas de filmes e séries até ao modo como são pronunciadas palavras estrangeiras e mesmo portuguesas.
«Cuidado com a Língua!» nasceu da proposta, feita por José Mário Costa ao director de programas Nuno Santos, de contrariar o «abastardamento do ensino (e o que se sabe do clamoroso índice de reprovações na disciplina de Português no ensino básico e secundário) e do nivelamento tão por baixo de como se escreve e fala nos diversos órgãos de comunicação social» (cito a sinopse do programa). O público-alvo (e aqui não sigo o texto da sinopse) é toda a gente, nos países onde se fala português, especialmente aqueles em que é língua oficial. A concepção do programa vai no sentido de evitar a aridez, a solenidade ou a chatice. É apresentado por um actor conhecido, talentoso e simpático - Diogo Infante, interpretando cenas construídas para o efeito ou apresentando as «da vida real», ricas na asneira e no ridículo. É filmado em exteriores - em vez de pôr um senhor diante de uma secretária num estúdio - e recorre a pessoas «normais» em situações usuais. Cumpre o objectivo de ser um «espaço de programação» didáctico, informativo e lúdico, detendo-se em palavras e expressões portuguesas - das quais explica origens e significados, apontando erros e acertos, questionando «modismos» e «barbarismos», notando diferenças entre o português de Portugal e outros. Principalmente atento à escrita, não omite a língua falada, contemplando diferenças entre nós e noutros «lusófonos». Ouvimos por exemplo Bagão Félix explicar como se pronuncia o seu último apelido. Capaz de autovigilância, o programa não se esquiva a reconhecer os seus próprios lapsos, como o fez ao corrigir «Joviana», que tinha grafado como «Juviana», e aproveitando para explicar a relação desse nome com «Jove» (Júpiter). As emissões até agora vistas (sete com a de ontem, faltando seis nesta 1.ª série) fornecem material para numerosos comentários. Os meus seriam, em geral, de concordância. Recomendo apenas alguma prudência nos aportuguesamentos; é duvidoso que da pronúncia de um nome árabe (aliás variável, conforme os falantes e os dialectos) decorra automaticamente a sua grafia, e pode haver quem pense que «alcaida» é a mulher do alcaide e não «al-Qaida» (ou al-Qaeda»), «a base»."
Francisco Belard

P.S. - (1) Adoro ouvir o Luís Filipe Vieira a dizer que viu "rapazinhos a correrem" (sic)
P.S. - (2) Este post foi elaborado sem a presença de gralhas, erros de ortografia, sintaxe, pontuação ou concordância, exceptuando a citação do LFV.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Acreditem que é verdade


Depois de ter passado em revista alguns dos jornais desta 5ª feira, cheguei à conclusão que não foram só as temperaturas que baixaram! As águas (do Ministério da Educação) começam a ficar agitadas, mesmo que para isso seja necessário desassoreá-las pela força da chuva que tem caído! Digo isto porque apesar da vontade do ME em enfiar a "cabeça na areia", os problemas estão aí (e começam a bater-lhes à porta com mais regularidade e intensidade).

Mas, vamos por partes: em primeiro lugar, é importante referir que a contestação à Sra. Ministra e seu séquito tem vindo a aumentar não só pela parte dos professores mas também de alunos e até mesmo dos pais! É claro que a face mais visível desta oposição tem-se mostrado nestas duas últimas semanas e fica-se a dever à paragem feita pelos professores na semana passada (9 e 10), pela vigília feita em frente ao ME (desde dia 15 e ainda a decorrer) e pelas acções de luta levadas a cabo pelos alunos durante o dia de hoje (16).

Em segundo, convém explicar que todo este salsifré se deve, em grande parte, à revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD) que, entre outras coisas bonitas de se ver, prevê a divisão da carreira de professor em duas categorias: professor e professor titular, bem como a introdução de quotas para aceder à segunda e mais elevada. Como se não bastasse, ainda pressupõe a avaliação do desempenho dos professores dependente de critérios como os resultados escolares e as taxas de abandono dos alunos. Mas nada disto é novidade!

Mesmo assim, atrevo-me a dizer que em vez de proporcionar aos professores uma carreira - na verdadeira acepção da palavra - este ME e este governo preferem impedir que isso aconteça, se isso significar poupar uns trocos ao fim do ano! (Como se costumava dizer quando eu era petiz: "Assim não brinco! Pego na bola e vou para casa!") No entanto, quem assume esta posição é o governo e não os desgraçados dos professores que estão a ser "comidos" por todos os lados, uma vez que da parte deste ME só se têm visto imposições e nenhumas negociações! Aliás, ninguém me consegue convencer de que as "negociações" com os sindicatos só se continuam a realizar porque estão previstas na lei, senão, até isso tinha sido suprimido!

Porém, se tudo isto já parece mau, na minha opinião, o pior ainda está para vir... visto que este ECD se aplica aos professores que já têm uma carreira construída (por mais pequena que seja) e também aos que ainda nem sequer a começaram! E aqui é que (passe a expressão) "a porca torce o rabo"! Se até aqui já era difícil aos professores encontrarem um posto de trabalho fixo, com a entrada em vigor deste ECD (já para 2007) é mesmo para esquecer! Para além disso, e porque os professores desempregados representam cerca de 10% dos 457 mil trabalhadores que em Portugal estão desocupados, o Governo insiste em propagandear a descida da taxa de desemprego como a saída para a crise. Nem vale a pena estarmos com rodeios: a taxa de desemprego está a ser falseada com o objectivo de criar a ilusão de que a economia está a crescer... e já se sabe que a economia só cresce com base na confiança! (Mas se calhar estou a apontar só o óbvio...)

No caso concreto dos professores é muito simples desmontar o engano: vamos supor que na escola X é necessário um professor de Língua Portuguesa (para leccionar 4h semanais) e outro de Inglês (com a mesma carga horária). Como é que o ME resolve o problema da escola e o do desemprego ao mesmo tempo? "Elementar, meu caro Watson!" - diria Sherlock Holmes. Em vez de abrir uma vaga de 8h semanais para os licenciados em Português/Inglês (que podem leccionar as duas disciplinas), OBRIGA a escola a abrir dois concursos diferentes, um para cada horário, empregando, assim, duas pessoas em vez de uma!


"É ou não é do catano, caraças?"

sábado, novembro 04, 2006

Mas quem é o gajo?

Será descendente de Nietzsche, Kant ou mesmo de Agostinho da Silva? Estas e outras perguntas andam-me a atormentar já desde a semana passada (altura em que vi pela primeira vez o fim de um episódio da novela Jura, em exibição na SIC).
Para quem não sabe, enquanto passa a ficha técnica da referida novela, ouvem-se os pensamentos profundos de um "filósofo existencialista" com um discurso marcadamente retórico, que nos apresenta oralmente os "momentos altos" do episódio desse dia e abre-nos uma fresta dos episódios seguintes!
Vai daí resolvi lançar um desafio aos caríssimos leitores (os 4 ou 5 que têm pachorra para nos aturar) pois pode ser que juntos consigamos descobrir quem é este "amigo do saber" e dá-lo a conhecer ao país, quem sabe ao Mundo e talvez à Europa?