sábado, fevereiro 25, 2006
O que eu gostaria dizer sobre Relativismo
(Vêem nesta figura uma jovem mulher ou uma idosa senhora?)
Obviamente não vou conseguir dizer tudo, mas ficam aqui alguns dos meus pensamentos sbre esta corrente e a forma como actualmente se lida com ela.
Mais uma vez começo por fazer a distinção entre relativismo absoluto e moderado.
O relativismo absoluto não o "defendo", a nosso quotidiano exige respostas que se sobreponham a outras, não quer dizer que sejam as melhores, mas muitas vezes só podemos lidar com uma. Ou seja a negação do relativismo absoluto é feita na medida de uma necessidade, não quer dizer que ao fazermos escolhas estamos a ser correctos ou a aproximar-nos mais da realidade, trata-se de uma limitação à qual cedemos em prol de uma vida incoerente mas vivível. Por exemplo: vou comprar um computador, só tenho dinheiro para comprar um, poderei, analisando vários factores, argumentar no sentido da compra de dois tipos diferentes. Mas mesmo que eu não faça a melhor escolha vou ter de optar, e é essa sobreposição que precisamos.
No entanto o relativismo moderado é uma corrente possível e até desejável. Atente-se na construção do conhecimento, ele é feito de descobertas e negações de descobertas, foi porque se aceitaram opiniões divergentes que na altura eram inaceitáveis que temos as "evidências" de hoje.
O relativismo é fundamental no sentido da evolução, se não pensarmos que o conhecimento que temos é relativo a nós, ou seja a realidade não é uma evidência do essencialismo nem tão pouco facilmente percepcionável pelos nossos sentidos. O conhecimento é uma aproximação àquilo que será a realidade, veja-se que os próprios cientistas têm noção disso, o conhecimento é a forma possível de compreendermos o mundo, não é uma forma necessariamente errada ou certa, é uma aproximação que no nosso quotidiano nos têm sido útil. Mas não poderemos nós viver num mundo sem certezas absolutas? Assombra assim tantas almas a dúvida? Auto questionar tudo o que sabem é contraproducente?
"Introduzo" o conceito de verdades parciais, este conceito sempre existiu por força da evolução na nossa sociedade. As verdades parciais são os pressupostos com os quais nós argumentamos hoje, amanhã e eventualmente daqui a um ano, mas se hoje argumentamos com base nesse pressuposto ele pode vir a ser racionalmente negado amanhã. Ou seja sem termos certezas absolutas e dogmas podemos argumentar e discutir, simplesmente não podemos aceitar a infalibilidade dos pressupostos, caso contrário corremos o risco de simplesmente estagnar ou eventualmente não descobrir soluções mais próximas da realidade
Basta ver que a as leis, pilar das nossas democracias, não são estáticas e se não são estáticas é porque evoluem e porque houve a necessidade de rever pressupostos. Como poderíamos defender o casamento para casais homossexuais sem exigir a evolução na nossa lei? Não estamos nós a negar uma velha evidência de que o casamento e direitos civis associados são só para casais heterossexuais? Estamos, pois claro.
Seja para manter os postulados ou alterá-los é vital termos a capacidade de nos auto questionarmos, relativizar é principalmente termos a noção de que somos limitados sem no entanto sermos capazes de quantificar essa limitação. Se tivéssemos a real noção de quão limitado somos, era porque na verdade não o éramos...
Na refutação ao relativismo não me tem passado indiferente que muitos dos mais célebres (não todos claro) estão ligados de forma consistente e corporativa à religião. Não me é indiferente que as motivações que alguns têm nesta refutação seja a de abrir caminho para os dogmas, as verdades reveladas e inquestionáveis.
A refutação geralmente recorre aos paradoxos e com certeza que tem paradoxos mas se pensarmos bem em tudo, conseguimos encontrar paradoxos em quase tudo (para não dizer em tudo mesmo). Os paradoxos deixaram de ser uma questão de análise interessante para ser arma de arremesso ideológico, a diferença está que o relativismo aceita os seus paradoxos e procura analisa-los mesmo que essa seja tarefa ingrata e de resolução aparentemente impossível. O que acontece é que os demais preferiram fazer tábua rasa dessas mesmas inconsistências, elas não se vão embora, elas estão lá para assombrar as nossas mentes, simplesmente preferimos viver na ignorância de ignorar a sua existência.
Para perceberem como os paradoxos nos assolam no dia-a-dia aqui ficam alguns exemplos:
"Tens de ser espontâneo."
"Serei intolerante para com os intolerantes."
"Ser feliz sem ignorar um sequer instante os infelizes."
Mais direi sobre este tema...
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