sexta-feira, junho 22, 2007

Sobre a contrução de um novo aeroporto


O governo é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é desinteresse
O interesse que deveras sente.

E os que vêem o que faz,
No desinteresse visto sentem bem,
Não os dois que ele teve,
Mas só o que ele não tem.

E assim pr'ós lados da Ota
Gira, a entreter a razão,
Esse aeroporto de corda
Que se chama encenação.

quarta-feira, junho 13, 2007

Mais uma vitória do Governo


Estamos perante o governo com maior capacidade de diminuir despesa, neste caso relato a capacidade de poupar em despesas de saúde. Imagine-se uma mulher de 51 anos que é doente e tem diversificados problemas de saúde e tem um SAP a 500 metros. Agora fechamos o SAP e mandamos essa pessoa num veiculo durante 50 quilómetros até Évora. Ora tudo somado temos uma morte, um SAP a menos, menos despesas de saúde, menos subsídios...uma gestão eficaz que nos permite morrer ou viver (para os que teimarem sobreviver) mais felizes.



P.S. De seguida espera-se um relatório científico em que o governo prova que a mulher ia morrer aos 490 metros e que logo o governo nada podia fazer...ou sejá está tudo bem.

É somente fruta..




Se a mediatização da Justiça tem efeitos negativos, o efeito positivo que terá será precisamente tornar público que a Justiça portuguesa é em si um efeito negativo sobre a sociedade portuguesa. Parece que Maria Morgado descobriu a pólvora, e que Pinto da Costa é capaz de ser um agente corruptor...estou escandalizado e principalmente surpreso. Já cheira a podre e apressam-se as críticas pessoais direccionadas a Maria Morgado, porque defender Pinto da Costa concretamente...ninguém defende, aquilo que se espera é que se mantenha a normalidade da injustiça. Mas mais interessante disto tudo é saber o teor das conversas e ver as conclusões sobre essas mesmas evidências, as escutas pareciam evidenciar que Pinto da Costa forneceria "fruta" e "café com leite" ao árbitro que por acaso iria apitar um jogo de seu interesse. Mas repare-se que nada de grave se passa, é somente fruta, qual é o problema de oferecer fruta a um árbitro que vai apitar um jogo referente ao clube que é por nós dirigido? Nenhum...obviamente. A coisa só fica grave quando se descobre que "fruta" não é fruta, será "algo" de maior valor. Isto lança uma dúvida interessante, afinal parece que corromper alguém com valores reduzidos e simbólicos não é corrupção, o valor da transacção que materializa a corrupção é também decisivo, ao ponto de poder ou não ser corrupção. Esta lógica é bastante interessante visto que é aplicada ao coitadinho do Pinto da Costa mas não à velhinha satânica que roubou um creme de 3.99 euros ao Lidl.

quarta-feira, junho 06, 2007

Eu até mudava 100...

Em notícia do DN de hoje, diz Poul Rasmussen (o "pai" do primeiro modelo de flexigurança) que o trabalhador médio na Dinamarca muda de emprego 15 a 20 vezes, mas mais de metade destas mudanças ocorrem dentro da própria empresa, ou seja, são promoções (não tenho problemas nenhuns com "estas" mudanças).
Outro dos factos apresentados é tão somente este: na Dinamarca um trabalhador que seja posto fora do seu emprego "leva, em média, 10 a 14 dias" a encontrar uma alternativa, garante o "pai" da flexigurança. Já no nosso país, o mesmo processo leva mais de um ano.
Qual a conclusão que retiro disto tudo?
Eu até nem me importava de mudar 100 vezes de emprego DESDE QUE TIVESSE UM (que não fosse precário) ou soubesse que mesmo em caso de despedimento, ao fim de duas semanas estava outra vez a trabalhar. Agora com a situação que se vive em Portugal as coisas são bastante diferentes...
Para finalizar Rasmussen afirma ainda que "não se pode competir com salários baixos, mas sim com altas qualificações". De facto, este parece ser o caminho menos mau, mas mais uma vez, em Portugal, 8,6% dos desempregados tem formação superior... nada de alarmante visto que estes 8,6% são apenas 40 411 pessoas.

P.S. - Oh João! estamos perante mais uma minoria!

O mundo chocou-se com tamanho atropelo à liberdade de expressão

Rigor informativo














Na Sic Notícias relatava-se o caso de um indíviduo que saira de um coma de 19 anos. A entrevista salientou o facto de este ter entrado em coma durante o período dominado pelo regime comunista e ter acordado num regime democrático, acontece que o indivíduo é polaco e a democracia é esta (via Devaneios Desintéricos).

Desde que a turma não falte toda

Era uma vez uma turma de 40 alunos, faltaram 15, e a professora pensou está tudo bem, se faltassem os 40 é que havia algo de errado.

Era uma uma vez um indivíduo que comprou um par de sapatilhas e no entanto quando chegou a casa faltava uma e pensou, "não há problema se faltassem as duas é que era grave".

Era uma vez um indivíduo a quem faltava 40% do cérebro, mas ele pensou "nhe nhe nhe", ou seja achou que estava tudo bem desde que não faltasse o cerébro todo.

Era uma vez um governo que fez questão de alertar para o facto de não haver greve geral...

Portanto desde que não haja descalabro está tudo bem, o todo não é importante desde que estejamos satisfeitos com a parte, pode faltar uma sapatilha, 15 alunos, 40% do cérebro ou 1,4 milhões de trabalhadores (segundo A CGTP). O governo mobilizou-se de forma árdua para que toda a gente soubesse que não se tratava de uma greve geral, isto é claramente um duro golpe nos críticos do governo visto que de facto este tem uma excelente capacidade de mobilização e actuação. De facto se virmos bem toda a política socialista é bastante coerente, repare-se que também os 20% por cento de pobres portugueses também não são motivo de preocupação.

Isto remete-nos para o papel da democracia, afinal a democracia tem vencedores e vencidos, o que fica para os vencidos? A que ponto são relevantes as minorias? Será que todas as minorias são iguais perante a democracia? Desprezáveis?

Se repararmos existe um discurso bastante perverso na política e que reflecte os grandes problemas das sociedades ocidentais, bastou o governo introduzir no léxico noticioso as singelas palavras "não houve greve geral" e o país subitamente ficou mais feliz. O governo não precisou de dizer desprezem a minoria que está descontente com a sua situação laboral, apenas precisou de lembrar ao público que se trata de uma minoria, "nós já sabemos" que uma minoria é desprezável. No fundo é isto mesmo, é dar ao público algo fácil de identificar, é geral ou não é geral?...não é...então despreze-se. A própria política é assim, se há maioria no parlamento a democracia começa a parecer uma formalidade aborrecida.
É essencial garantir o mínimo que satisfaça maioria, é preciso tratar bem as minorias que jogam com as maiorias e garantir também que a maioria não se condoa com as minorias. É o mínimo consenso possível que permite perpetuar a injustiça, a democracia é jogada de forma cínica, científica, no sentido de garantir uma classe média satisfeita e manter os atropelos na clandestinidade.

Convém relembrar que a democracia surge em oposição a regimes autoritários no sentido de alargar o bem estar e os direitos individuais, tendo isto em conta não me parece suficiente democrático ter uma maioria satisfeita negligenciado as minorias insatisfeitas.