sábado, fevereiro 04, 2006

Homofobia caviar


"É-me bastante indiferente esta polémica sobre o casamento para homossexuais, que não penso que toque nada de importante quer no que se adquiriu de tolerância na sociedade, quer no que não se adquiriu. E aqui tolerância é o direito de cada um viver como entende.

Mas, poucas coisas conheço mais conservadoras do que reivindicar o “casamento” para os homossexuais. Nem mais nem menos do que o “casamento”, essa sobrevivência na lei do mandamento cristão-católico. Se a reivindicação fosse feita à Igreja, para um acto religioso por parte dos crentes, ainda se entendia. Mas exigi-lo ao Estado, dá como resultado reforçar-se ainda mais a centralidade da instituição “casamento” nas relações afectivas, e isso parece-me conservador, para não dizer outra coisa. O que é que se espera no “casamento” que não se tem na união de facto? A obrigação contratual de “fidelidade”?

Sou avesso a que o Estado legisle muito sobre intimidades, afectos e modos de vida. Isto de se valorizar a diferença, de se andar a dizer “todos diferentes, todos iguais”, só tem sentido quando de facto valorizamos a diferença e não quando queremos que se normalize a sociedade, se mate a diversidade. E quanto aos argumentos legais, se é assim, então por que não se aceita a poligamia na ordem jurídica? Mormons e muçulmanos não têm direito à sua visão do mundo? Podem ser discriminados por razões religiosas? Não é contra a Constituição?"

José Pacheco Pereira

Depois da homofobia tolerante vem a homofobia caviar, confesso-me surpreendido pela diversidade existente na patologia.
Vamos lá ver com que nos brinda o caro JPP, apesar de tudo estas duas vertentes apresentam alguns sintomas iguais, ambos começam por um discurso surpreendente e tolerante. Neste caso é reconhecida a tolerância como o "direito de cada um viver como entende".
Logo a seguir ataca a patologia e vem um "Mas" que significa que o paciente está a ter uma recaída, nestes casos recomenda-se a imediata medicação não vá a patologia agravar.
Nada feito, não havia medicamentos por perto e resta-nos agora elaborar o relatório dos sintomas que se manifestaram:
Já possuído pela doença este afirma que o reivindicar do casamento para os homossexuais é um acto conservador, porque até compreendia que este fosse exigido à igreja, mas ao Estado é que não, que homossexualidade estranha esta que reivindica a patente da afectividade, a formalização e obrigação contratual de fidelidade.
JPP não quer que o Estado legitime o casamento pois assim está a arruinar a diversidade, ou seja a contemplação da diversidade na lei é contraproducente para a própria diversidade.
Depois de se indignar com o acto conservador de requerer um casamento homossexual, eis que apela precisamente ao nosso conservadorismo para compreendermos que nem tudo pode estar abrangido pela lei. Sendo que recusar o direito ao casamento é tão natural como não aceitar a poligamia. Questiona-nos, já com febre alta, se não será que ao não contemplarmos as visões dos Mormons e Muçulmanos não será inconstitucional.

Elaborado o relatório dos sintomas, vou agora elaborar o relatório onde mostro as vantagens do tratamento e como seria uma vida livre da doença que assola gente de mais, é um caso de saúde pública diga-se.

Ora, se JPP estivesse curado a questão da homossexualidade não lhe seria indiferente, aliás na própria patologia não o é, simplesmente este é contra o casamento. Continuaria a ter a mesma opinião sobre tolerância mas depois disso não dizia mas, não tentaria usar a imagem liberal a que está associada homossexualidade para hipocritamente estranhar que um casal homossexual queira aderir ao conservador casamento. Teria a sensatez de reconhecer que o casal procura direitos e não uma visão conservadora do amor, não se embrulharia neste imbróglio de conservadorismo para depois não lhe incomodar que o casal requeresse o casamento à Igreja que é ainda mais conservador, sabendo perfeitamente que a igreja recusaria e que mesmo que esta reconhecesse o casal continuaria diminuído nos seus direitos se o Estado não reconhecesse.
Não faria o raciocínio tosco de que a legislação aniquilaria a diferença, seria honesto e reconheceria que a legislação não impunha nada, apenas concedia que, individualmente e livremente, se pudesse desenvolver a sexualidade tendo plena consciência que essa opção não diminuiria nunca os seus direitos.
A aversão a que o Estado legisle já faz parte de outra patologia, mas quanto ao legislar sobre a intimidade também é falso pois este não se indignou aquando do seu casamento nem com as regalias que o Estado lhe confere por decisão tão especial da sua intimidade.
Em relação à questão dos Muçulmanos e Mormons, este diria que esses são argumentos infundados pois tratam-se de núcleos religiosos e que devido à (utópica?) laicidade do nosso Estado não seria legislável tal coisa. Reconheceria que esse era um argumento tosco perante a questão da homossexualidade que não está de forma alguma ligada a alguma crença religiosa, bem pelo contrário...

Conclusão:
É preciso apostar na saúde, estes casos são comuns e não existem estudos conclusivos quanto á sua transmissibilidade,


3 comentários:

cãorafeiro disse...

excelenet post, a desmontar os argumentos falaciosos de JPP.
o mais giro é ele dizer que esta coisa do casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma ofensiva do politicamente correcto.

João Dias disse...

Obrigado.
Eu acho engraçado que o JPP é como JCN só que mais requintado, parece a versão caviar.
O JPP usa o argumento do politicamente correcto a torto e a direito, já é mero instrumento estatístico nem conta como argumento.

Pedro Morgado disse...

Sim senhor!
É coerência, senhores, é coerência...
Qualquer dia voltamos a ouvir falar de homicídio piedoso....