segunda-feira, março 13, 2006

O que é a história?

Diz o trava línguas que "a história é uma sucessão sucessiva de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar" mas até que ponto será isto verdade? Olhando para França e para os movimentos estudantis que têm surgido nas últimas semanas parece-me que a frase faz todo o sentido. Isto porque a "jeunesse" está, segundo o título de um jornal, "en colère". Ora, penso que já todos perceberam que estou a tentar estabelecer uma paralelo com o Maio de 68. Mas a que se deve esta insatisfação mais ou menos generalizada dos estudantes universitários? Por aquilo que já consegui perceber, e devo dizer que a minha pesquisa não foi aprofundada, há factores bastante importantes em jogo. No entanto, o cerne da questão parece-me estar na aprovação de um projecto de lei para a igualdade de oportunidades face ao emprego. Até aqui parece tudo bem mas já se sabe que estes "presentes" do governo trazem sempre algum "veneno". Não só porque este projecto de lei prevê a aplicação de um "famigerado" CPE (que consiste num primeiro contrato entre os jovens e as empresas) mas também porque durante o período de experiência deste CPE (2 anos) qualquer trabalhador com menos de 26 anos pode ser despedido sem motivo. E esta é só a mais conhecida das "dores de cabeça"! Segundo as palavras da jovem Loubna Belrhali de 22 anos apenas "O governo apresenta este contrato como trampolim para o emprego, mas é apenas a promessa de um eterno regresso à casa de partida." Não querem lá ver? Já a formiga tem catarro! Digo isto porque o governo francês disponibilizou no seu site algumas respostas às FAQ acerca do CPE e nelas encontrei alguns dados interessantes! Em primeiro lugar o próprio governo admite que este CPE é um contrato de duração indeterminada. Em segundo porque (e isto é apresentado como uma vantagem) este contrato prevê garantias como a protecção reforçada em caso de despedimento. Definindo o conceito de protecção reforçada (apresentado no mesmo site) podemos constatar que em caso de rescisão do CPE, é fornecido pelo Estado um subsídio de 490 euros por mês, durante um período de 2 meses. (Meu Deus tanto dinheiro!!!) E a partir daí? Bom, acho que a única solução passa por tentar obter, NOVAMENTE, um subsídio de desemprego, isto é, o tal regresso à casa de partida de que falava a Loubna. Mas para não me alongar muito vou voltar ao paralelo com o Maio de 68! Resolvi escolher este período da história francesa pelas semelhanças (que ainda são algumas embora sem haver uma generalização do movimento) e também por algumas diferenças que se notam.
No que diz respeito às semelhanças, em 68 tentava-se implementar um novo sistema de diplomas universitários que iria criar injustiças flagrantes; a maioria dos estudantes opunha-se à guerra do Vietname e à tentativa do imperialismo norte-americano de restabelecer o seu controlo no Sudeste asiático. Para contrariar tudo isso, os estudantes começaram por invadir a Sorbonne. Como nunca fiz nenhuma sondagem acerca das razões do descontamento actual posso apenas falar dos protestos anti-CPE (que é, pelas razões que acima enumerei, francamente injusto) e das semanas que a França passou "a ferro e fogo" aquando dos confrontos entre os jovens dos bairros sociais e a polícia. Facilmente se percebe que as razões flagrantes para esta revolta são de natureza laboral, mas se querem saber a minha opinião, uma boa parte desta gente não verá com bons olhos a guerra no Iraque e o imperialismo americano a querer impor-se ao Irão, à Síria entre outros (nem vou falar do Afeganistão porque considero que aí o imperialismo já triunfou).
Em relação às diferenças, podemos afirmar que o movimento (até agora) não está, nem de perto nem de longe, generalizado na sociedade francesa. No entanto, os violentos protestos a que assistimos há alguns meses (com carros queimados e confrontos com a polícia) também estavam relacionados com políticas, ou ausência delas, relacionadas com emprego. Outra grande diferença é que França é um dos países mais inovadores no que diz respeito à legislação laboral (a eles devemos a semana de 40h de trabalho, por exemplo) e neste momento, através deste projecto de lei, está a tentar legitimar a criação de uma geração de sacrificados. É caso para perguntar: "Onde é que já vai o ideal da revolução de 68 ?" Já se sabia que estava morto mas a vir a ser aprovada esta lei é caso para dizer que já foi digerido pelos vermes e está neste momento a viver sob a forma de vegetal.
Na passada quinta-feira deu-se início ao movimento de protestos estudantis (estima-se que entre 30 a 45 Universidades num total de 84 estiveram em greve ou boicote às aulas), na semana que agora se inicia espera-se que mais se juntem e o governo já começa a dar sinais de preocupação pois no domingo à noite, no telejornal da TF1 o PM Dominique de Villepin anunciou que ia propor a criação de "garantias suplementares" para o CPE. No entanto, os líderes estudantis afirmaram que o PM não percebeu a juventude, que usou os mesmos "argumentos enganadores" que vinha usando desde o início da polémica e que a sua proposta "não é sincera". Numa semana que se prevê decisiva, Nicolas Sarkozy continua "a curtir" a sua estadia nas Antilhas de onde tem tentado gerir a crise mas, pelos vistos, sem sucesso. Foi outra das razões pelas quais decidi fazer o paralelo com o Maio de 68 pois nessa altura o PM esteve fora de Paris entre 2 e 11 de Maio enquanto que o General De Gaulle partiu em viagem oficial de 14 a 19 do mesmo mês.
Espero ter conseguido explicar e clarificar a minha posição face a esta situação e gostaria que quem tivesse mais informações as trouxesse para a discussão. Eu, pela minha parte, prometo voltar a este assunto assim que obtenha mais dados.

3 comentários:

Anónimo disse...

Que salganhada de clichets, que ligeireza e superficialidade, que pobreza de análise. "Já a formiga tem catarro". Leia-se e analise-se, sem ser vaidoso. E deixe a liguagem de puto.

João Dias disse...

Cof cof cof...eu, barata constipada, não me consigo conter, tenho mesmo de elogiar a profunda análise do mr.jim...cof cof cof...maldita tosse.
Aliás pedia que se contesse no uso de argumentos, nem eu nem o meu colega (formiga com catarro) temos tempo ou inteligência para os refutar.

Rui Maio disse...

Caro mr. jim: obrigado pelo seu comentário tão construtivo! Tenha é mais mais cuidado com a ortografia!