terça-feira, março 14, 2006

Desinformando se aprende

Depois de ler este artigo vejo cada vez mais consolidada a minha contestação ao papel da comunicação social.
Um artigo que parece querer relançar a questão da educação está na realidade a preconizar uma visão capitalista do mercado e passo a explicar porquê e aonde, não sem antes criar esta pequena fábula:

Começamos por ser romanceados, quem escreveu este artigo é um verdadeiro cidadão preocupado com a educação porque "Educação na Europa continua a perder terreno, não só face aos Estados Unidos como em relação a potências asiáticas como o Japão, a Coreia do Sul e as emergentes China e Índia. Apesar de estar comprovado que o investimento na Educação "dá lucro", traduzindo-se no crescimento económico, o Velho Continente continua a gastar de menos e mal, condicionado por tradições elitistas e políticas educativas inadequadas à realidade dos nossos dias."

O romance prolonga-se, é nos relembrado aquele velho amor, a educação, o capital do conhecimento, sejamos platónicos e vivamos esse amor apenas na nossa memória sem conspurcações carnais:
"recorda o Conselho de Lisboa de 2000, em que os chefes de Estado da União Europeia estabeleceram a meta de construir "a mais competitiva e dinâmica economia do conhecimento do mundo"

Mas atenção, a memória do nosso amor desvanece, já nem a sua memória parece resistir para que possamos recordar o nosso amor:
"traça o quadro preocupante de uma actualidade em que a perda de competitividade continua a aumentar."

Esqueçam esse amor, sejam fortes e abracem um novo mundo, novas possibilidades:
"O tempo em que a Europa competia sobretudo com países que ofereciam mão-de-obra barata e desqualificada acabou há muito", avisa o relatório. "

Uma moça de contornos que obrigam o sangue a concentrar-se no mesmo sítio acena-nos, esqueça-mos esse romance platónico:
"Hoje, países como a China e a Índia começam a produzir altas competências e custos baixos a um ritmo cada vez maior."


Para ser sincero eu também defendo uma democratização do ensino, defendo que o ensino deve ser acessível a todos, aliás "todos" o defendemos só que depois na prática começam a emergir as verdadeiras prioridades. Veja-se que este artigo está muito preocupado com a Competitividade do ensino, está aqui o primeiro cheirinho de desinformação, nunca no artigo se opina sobre qualidade de ensino ou se apela a reformas qualitativas no ensino. A grande questão está em que é necessário ter muitos doutores e etceteras para que as empresas possam ter muita oferta de mão-de-obra e consequentemente mais barata. Imaginem pessoal qualificado aos pontapés, finalmente (já acontece) as empresas podiam explorar mão-de-obra qualificada, não se ficariam pela menos qualificada, atenção eu defendo que deve haver cada vez mais mão-de-obra qualificada mas não com intuito desta ser explorada. Mais um laivo de desinformação, os países de referência são China (essa pródiga democracia) e a Índia, ou seja o exemplo são dois países que são muito competitivos porque exploram à grande os trabalhadores, atente-se para mais um laivo de desinformação, neste mesmo exemplo já não falam dos E.U.A. porque aí a mão-de-obra qualificada ainda não é explorada.

"Para o autor, a Europa não conseguirá enfrentar a concorrência criando obstáculos aos quadros e às empresas destes países. "

Pois é se calhar não era mesmo de educação que queríamos falar...pois não?

Já que aqui se bateu tanto na educação da Europa, pensem quanto do conhecimento fundamental foi aqui construído, vejam os nomes de grande descobertas do passado, vejam também quanta massa cefálica exportamos. Longe de mim estar a dizer que a Europa é o melhor deste mundo, apenas digo que se faz tábua rasa do nosso património de conhecimento com intuitos capitalistas de fazer a derradeira transformação da mão-de-obra em mercadoria.
Usando argumentos muito apetecíveis e que muitos de nós gostamos de ouvir como estes:
"Para além de se criarem oferta educativas mais "flexíveis e eficazes", impõe-se "reduzir as disparidades entre classes sociais" no acesso à educação superior, e abandonar práticas como "cobrar impostos aos mais pobres para subsidiar a formação dos ricos"."


Oh meu amigo, "o que tu queres sei eu".

2 comentários:

""#$ disse...

jÕAO; a conversa desse tipo de senhores é sempre a mesma...privatizar,privatizar, privatizar...

João Dias disse...

Ah...devo dizer que o link encontra-se no próprio título do post.