terça-feira, março 21, 2006

O Elixir do Dr. Doxey (1)

Em notícia publicada hoje no Público, dá-se conta de dois projectos a apresentar amanhã no Parlamento que têm como objectivo reduzir o insucesso e o abandono escolar. E como é que isto se vai fazer? Através da colocação nas escolas de licenciados no desemprego, para apoiar alunos com dificuldades e estudantes imigrantes. Parece-vos bem? A mim também! No entanto, peço mais um minuto de paciência pois ainda não acabou! Em primeiro lugar, os proponentes sugerem que "estes técnicos qualificados" sejam integrados "em equipas multidisciplinares de apoio especializado, que devem funcionar em estreita ligação com os órgãos de gestão das escolas JÁ A PARTIR DO PRÓXIMO ANO"! (Não me façam cócegas que eu desato à gargalhada!) Em segundo, porque se prevê que depois da aprovação do projecto (se o for), os licenciados terão um período de formação "através de parcerias estabelecidas com universidades, institutos politécnicos, associações de professores ou serviços públicos com trabalho desenvolvido junto de crianças e adolescentes em risco". (É já a seguir!)
De facto, os meses que separam Abril de Setembro são mais que suficientes para que a proposta seja aprovada; para seleccionar os docentes mais qualificados (ainda estou para saber como); para que seja ministrada a formação necessária a todos os membros das equipas; e para formar as equipas de acordo com as necessidades específicas de cada grupo de alunos! (Então não?)
Quanto ao segundo projecto é "concebido nos mesmos moldes, mas orientado especificamente para a integração de alunos imigrantes ou descendentes de imigrantes", ou seja, "promover o domínio da língua portuguesa junto daqueles estudantes, facilitando a sua integração e sucesso escolar"! Parece-me bem! Se o Sócrates conseguiu implementar o Inglês na primária de Fevereiro a Setembro do ano passado por que é que não se consegue fazer o mesmo com o Português? Talvez a solução passe por fazer com que os professores que já estão colocados ajudem os alunos que não dominam a língua (coisa que já se faz), deixando os desempregados a "chuchar no dedo" e os primeiros com horas extra para além das aulas de substituição!
Para o grupo parlamentar que apresenta estes projectos é uma maneira simples de responder simultaneamente a três problemas: "o insucesso/abandono escolar; a questão da integração dos alunos imigrantes; e a ocupação e APROVEITAMENTO de milhares de professores desempregados e outros licenciados que não encontram um trabalho adequado às suas habilitações"! Estou maravilhado! Maiusculizei o termo "aproveitamento" por razões óbvias: dar a mão aos pobrezinhos dos desempregados APROVEITANDO as suas qualificações em troca de um subsídio de desemprego e a contagem do tempo de serviço para mim tem um nome: EXPLORAÇÃO!
(1) - Dr. Doxey - personagem do sétimo álbum de Lucky Luke que possuía a poção que curava todos os males, maleitas e afins!

8 comentários:

João Dias disse...

Desemprego->exploração
Quem disse que o desemprego é mau é porque não comtemporizou a óptica do empregador.

Rui Maio disse...

contemporizando a óptica do empregador: ele também devia achar o desemprego mau visto que se não o fizer poderá mais cedo ou mais tarde perder o seu próprio emprego por não ter ninguém para empregar! ou será que não?

João Dias disse...

Não, Rui, com desemprego há precisamente muita gente para empregar e com outra predisposição para ser explorada, sem desemprego é que não...
Além disso o empregador gosta de ter os quadros mais curtos possíveis...

Rui Maio disse...

acho que não me fiz entender! se em vez de 500 000 desempregados houvesse 10 milhões, os empregadores também perdiam o emprego! LOL (era bom, não era?) Mas quando falei em exploração dos desempregados foi por achar que se os puserem a trabalhar devem pagar-lhes mais do que aos desempregados que não têm emprego!

João Dias disse...

Esse "se" não tem consistência na realidade, é como dizer que de repente o dinheiro desaparecia por artes mágicas...puff
Os empregadores não têm de se procupar com emprego porque eles têm os meios de produção e concentram em si riqueza...
Ou seja o patronato não está no mercado de trabalho, eles comandam o mercado de trabalho.


Além disso as tuas palavras foram:
"perder o seu próprio emprego por não ter ninguém para empregar!"

Se calhar não querias dizer o que disseste??

Em relação à exploração não estou em desacordo, pelo contrário, simplesmente frisei que ela é impulsionada pelo desemprego.

Rui Maio disse...

Não, quis dizer precisamente isso! Como não vejo nenhuma maneira "real" de nos vermos livres de empregadores, resolvi divagar um bocado: ou deixamos todos de trabalhar ou fazemos uma revolução social e pomos os gajos a trabalhar para nós! agora na realidade, e não descurando o poder místico dos offshores e das fugas ao fisco, o dinheiro poderá vir, gradualmente, a desaparecer! mas temos "sempre" os fundos comunitários europeus!

João Dias disse...

Não podemos pôr os gajos a trabalhar para nós, infelizmente, porque são eles que têm os meios de produção. Isto da questão dos meios de produção está intimamente ligado às empresas e não tanto, mas também, aos serviços.
Mesmo com offshores o dinheiro não desaparece, é um truque de ilusionismo que não ilude ninguém mas que também ninguém quer combater em nome da "liberdade económica".
E nem sempre teremos os fundos comunitários porque com dizia Lavoisier:
"...nada se perde, tudo se transforma."
Aliás para ter fundos comunitários e offshores são masi incompatíveis do que possa parecer.

Rui Maio disse...

Exacta tal e qualmente! Que vida preenchida que nós temos! Passamos a vida a bitaitar os nossos próprios posts! Um abraço!