Homofobia tolerante

Ao ler o artigo de João César das Neves no Dn já eu esfregava as mãos convencido que tinha material para a minha escrita, digamos que um artigo do JCN cujo título é Fundamentalismo e homofobia promete. Para meu espanto o professor universitário não se identificava com nenhuma destas respeitáveis categorias, surpresa ainda maior quando começo a ler o texto e este manifesta-se contra a imposição do Intelligent Design no ensino dos E.U.A.. Para quem não conhece as peripécias do ID nos E.U.A. aconselho a acompanhar o Diário Ateísta. Voltando ao surpreendente artigo, JCN refuta muito bem (nem acredito que estou a dizer isto) o argumento usado de liberdade religiosa:
"Mas a liberdade religiosa, se dá a cada pessoa e comunidade o direito à sua fé e celebração, não lhe concede a possibilidade de impor essa sua visão particular à totalidade."

Estranhando eu esta introdução e pensando que, depois da nevar, era tudo possível, eis que JCN nos brinda com a sua genialidade e mostra-se incomodado com o facto do Parlamento Europeu ter aprovado a "Resolução sobre a Homofobia na Europa". Esta "resolução" apenas visa o combate à discriminação e a convergência de direitos entre homossexuais e heterossexuais, não quer clonar homossexuais, nem impor esse mesmo "estilo de vida". Se o título do post pudesse eventualmente parecer estranho vai passar a ser mais claro:
"Qualquer cidadão europeu tem o direito de não ser perseguido pelas suas escolhas pessoais e estilo de vida. Mas isto não é combate à homofobia, mas promoção da homossexualidade, insultando toda a Europa, que desde sempre fez e faz naturalmente o que esta lei agora considera discriminação. O Parlamento Europeu, tal como os criacionistas americanos, distorce o conceito de liberdade para impor uma visão aberrante."

Ou seja JCN apenas nos brindou com o primeiro exemplo para poder legitimar a (esta sim) aberração que viria a dizer posteriormente.
É tão fácil perceber a lógica distorcida deste "cruzado" dos bons costumes que nem sei se ele merece muita atenção, mas com certeza também não merece a total indiferença. Todo o texto tem um aroma a pseudo-tolerância que, metaforicamente falando, parece um ventríloquo com mau hálito, ao mais pequeno movimento labial escapa a verdadeira essência.

P.S. Que me perdoem os ventríloquos, nunca conheci um ventríloquo e muito menos um com mau hálito.