sexta-feira, janeiro 27, 2006
Garantir neurónios hoje para sobreviver amanhã
Uma das coisas que eu sempre conjecturei em relação ao futuro era a evolução ou regressão da minha personalidade e forma de pensar. Ou seja, será o derrotismo, o conservadorismo moral, a fofoquice intriguista e outras características, que actualmente vejo com maus olhos, resultantes de um processo lógico do envelhecimento, serão apenas sintomas que variam de pessoa para pessoa, uma marca numa geração que viveu no Estado Novo ou uma mistura disto tudo e mais alguma coisa?
Nem sequer pretendo responder a isto, tratava-se apenas duma introdução que servia de desculpa para falar num caso paradigmático de regressão. Falo, nada mais, nada menos, de um ex-guitarrista dos Korn que se transformou num fanático religioso de seu nome Head (ora é precisamente isso que lhe falta). Poderá existir regressão mais curiosa do que a de um rapaz que participava numa banda de metal (mais especificamente Nu-metal) e de repente se vê abraçado pela idiotice? Até pode existir mas esta é sem dúvida paradigmática, a banda concebia canções onde falava sobre suicídio e onde o vocalista "exorcizava" o seu passado em que sofrera abusos sexuais, agora o ex-guitarrista dedicou-se a enviar mensagens à sensação do momento 50cent em que dizia a este para o contactar que ele o guiaria até à salvação.
Ou seja pode-se sair do mundo onde se fala e canta sobre as questões mais controversas sem tabus e ir directamente para o mundo do obscuro e dos silêncios surdos, daqui tiro algumas ilações:
- A droga consumida em excesso e sem cuidado gera psicoses e esquizofrenias, o que explica a opção de abraçar a vida da ignorância iluminada
- O rapaz, que agora defende fervorosamente os caminhos de Deus, é o mesmo que tocava guitarra, inconsciente, sem personalidade e com espírito de rebanho.
- Ninguém está a salvo de fazer uma regressão e o melhor é saborear os momentos de lucidez que nos sobram, mas também não é precisa muita preocupação pois, quando abraçamos a estupidez, também somos brindados com felicidade excedentária que a ignorância confere.
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9 comentários:
"Falo, nada mais, nada menos, de um ex-guitarrista dos Korn que se transformou num fanático religioso de seu nome Head (ora é precisamente isso que lhe falta). Poderá existir regressão mais curiosa do que a de um rapaz que participava numa banda de metal (mais especificamente Nu-metal) e de repente se vê abraçado pela idiotice?"
Quando for mais velho espero é que evolua rumo à tolerância. Porque, tem demasiadas certezas para ser sábio. E só o tempo... :-)
posted by anti-comuna
Eu realço a palavra fanático religioso, tenho familiares religiosos e convivo com eles porque eles perceberam que a religião é do foro pessoal.
O protagonista em questão não percebeu isso.
P.S. Aliás nem lhe garanto que os outros membros do grupo não sejam crentes, simplesmente não são fanáticos.
Macacos ma mordam se eu percebo o caríssimo "anti comuna": querem lá ver que um fanático religioso não é um idiota? Já sei, a sua resposta deverá ser "Depende: se for árabe, é um terrorista. Se for cristão, enfim, é um cidadão com ideias prórpias a ser respeitado". Pois...
Amigo João Dias, tás lá bakano: se é fanático religioso é, no mínimo, idiota. Ponto final.
Eu sei que é complicado classificar alguém de idiota, parece que nos estamos a pôr num papel de superioridade moral idêntica ao do visado. Mas é, também, preciso não perdermos a noção de que o politicamente correcto não pode aprisionar, de forma incondicional, os nossos verdadeiros pensamentos.
Aliás o próprio anti-comuna usa um nome que podia revelar alguma intolerância, mas eu parti do princípio que a liberdade de expressão e sentido de humor das pessoas dispensa moralismos. Não me parece que o caro anti-comuna seja intolerante, acho que ele descobriu uma forma sarcástica e livre de, em antemão, dizer-nos algo sobre ele.
Obrigado pela tua participação, amigo Max, se bem que, independentemente do "feedback", eu continuarei a investir neste blogue, é sempre bom ter esse mesmo "feedback".
Caríssimo João, para já deixe-me só dar-lhe as boas vindas a este nosso espaço. Pelo que vejo, veio somente dar continuidade à excelente qualidade com que nos brindou nos seus comentários.
Muito Obrigado!
Um abraço
Obrigado eu.
Vejo que ambos optamos pela coexistência, com mais ou menos humor, espero que ela continue.
Tarde e a más horas, aqui vai.
"Eu sei que é complicado classificar alguém de idiota, parece que nos estamos a pôr num papel de superioridade moral idêntica ao do visado. Mas é, também, preciso não perdermos a noção de que o politicamente correcto não pode aprisionar, de forma incondicional, os nossos verdadeiros pensamentos."
Já chegou lá perto.
O problema é outro. É sabermos que há fanáticos religiosos inteligentes. Deveras muito inteligentes. Logo, ser fanático religioso não significa ser-se idiota.
A intolerãncia está aqui. Etiquetar alguém de quem se discorda e apelidá-lo de idiota.
"Aliás o próprio anti-comuna usa um nome que podia revelar alguma intolerância, mas eu parti do princípio que a liberdade de expressão e sentido de humor das pessoas dispensa moralismos."
Aí está. E mais. Nem sei quem é pior. Se o fanático religioso se o fanático ateu. Para mim são pinga da mesma pipa mas engarrafados em diversos espaços de tempo e condicionamentos.
E, claro está, só não posso ser tolerante com a própria intolerância e crença na superioridade moral ou intelectual de algum chico-esperto, que julga onhecer os ritos de acesso ao conhecimento da transmutação do vil em valioso metal.
De resto, nada a assinalar.
Continuação de bom blogue.
posted by anti-comuna
Vá lá por acaso ainda reparei...
Bem, caro anti-comuna, eu etiquetei o rapaz de idiota porque estava a falar neste caso específico, outros fanáticos podem ser inteligentes e isso implica que mal intencionados.
Alguém que não exerce a religião como algo do foro pessoal, pode ser um idiota e fazê-lo porque não compreendeu tal situação ou uma pessoa inteligente e nesse caso mal intencionada porque sabe que está a lidar com algo do foro pessoal no entanto quer impor isso aos outros.
Não existe intolerância da minha parte, e para prová-lo vou refutar os seus argumentos.
É que quando eu considero alguém idiota, é porque acho que esse alguém está a proceder de forma desadequada em função da sua incompreensão dos termos da sua acção. Não chamo idiota a alguém apenas pela discórdia, NÃO o considero, a si, um idiota e no entanto é bastante claro que discordo de si.
"... só não posso ser tolerante com a própria intolerância e crença na superioridade moral ou intelectual de algum chico-esperto..."
Ora tendo já eu refutado a minha hipotética intolerância, o meu caro parece ser aqui o único intolerante.
"Já chegou lá perto."
Cheguei lá perto do quê?...da verdade?
Da sua verdade? Ou da verdade absoluta e irrefutável que o meu caro já conhece e eu não? Será que o meu caro também tem muitas certezas?
Você acabou de entrar num círculo infinito e vicioso de reconhecer a intolerância no outro e do outro reconhecer intolerância em si. É nessa base que subsiste o conflito e é nessa base que a incompreensão se perpetua.
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