sexta-feira, abril 21, 2006

Não é parvo de todo

António Vitorino, o político com menos sentido de oportunidade (a meu ver claro está) escreve este artigo bastante interessante. Sempre com aquele toque de bom representante do bloco central, questionando, pondo em causa algo sem no entanto se comprometer muito pois para ganhar eleições é preciso ser sereia (nem carne, nem peixe e com uma voz de encantar tolos).
Este questiona o facto de se considerar os valores da Europa demarcadamente de matriz cristã.
É natural que ele questione esta visão estupidificante e tendencialmente xenófoba da Europa com a meiguice de quem tem algo a perder.
Contemplando sobre as palavras de Ratzinger é possível encontrar contradições, uma delas reside na colagem simbiótica que o mesmo faz entre o iluminismo e o cristianismo, transmitindo uma complementaridade e suavidade onde houve choque e atrito. Ratzinger não conteve, mais uma vez, a sua angústia por haver quem relativize e assim escape às garras do conformismo da consensualidade ou das verdades reveladas, assim sendo faz mais uma revelação para o seu numeroso rebanho: a negação da Europa reside no relativismo.
Vitorino consegue muito bem focar os desafios da Igreja para estes tempos que se avizinham:

"Este é o verdadeiro dilema da Igreja de Bento XVI: encontrar, do ponto de vista doutrinário e pastoral, o ponto de equilíbrio entre a tolerância perante as demais religiões (o diálogo ecuménico no próprio espaço europeu) e ao mesmo tempo combater a "a-religiosidade" e o relativismo de valores nas sociedades europeus, uma tarefa a que o predecessor do actual Papa chamou "a reevangelização da Europa"."


Constata também alguma indignação pelo facto do Tratado Constitucional da União Europeia fazer um singela referência à "herança religiosa". Em programa televisivo não identificado, D. Saraiva Martins insurge-se dizendo que "factos são factos, outra coisa é a sua interpretação". António Vitorino contrapõe dizendo que ainda existe a dualidade se de facto não se trataria dum herança judaico-cristã e que para admitir a influência cristã seria também necessário englobar outras influências minoritárias de correntes religiosas.
Eu simplesmente digo que se factos são factos devíamos consagrar todos os movimentos culturais, intelectuais e afins que se congregaram na Europa e que isso tinha duas implicações aborrecidas: consagrar o relativismo como uma corrente que influenciou a construção da Europa e documentar a Inquisição como uma das fases fundamentais da construção da Europa (fundamental não quer dizer que tenha de ser positivo)

3 comentários:

João Soares disse...

Joao e equipa
Tb já retribui o link;)
Nesta "casa" sinto-me bem.
Optima semana!
Joao BioTerra

Anónimo disse...

Convido, particularmente a ti João Dias, a comemorar a inesquecível revolução dos cravos.
Saudações festivas.

Anónimo disse...

Não é parvo, não, por isso só é parlamentar em part-time.
E excelente Prof. de direito - foi o meu prof. de direitos Fundamentais.

Olá João :)