quinta-feira, abril 06, 2006

Cegueira selectiva


Mais um rapaz que não se contêm na sua perspectiva onanista e maravilhada de um ocidente que salva uma nação perdida. Esta argumentação é típica e a razão pela qual a imprensa anda pelas ruas da amargura no que diz respeito a qualidade, qualquer pessoa percebe a estratégia do opinador, trata-se de estupidificar e diabolizar a dissidência.
Aliás, se lido com leveza eu seria capaz de me revoltar contra mim mesmo, porque aparentemente pessoas como eu só querem o pior para o Iraque.

"Passados três anos sobre o início da intervenção, talvez fosse a boa altura para aqueles que passam o tempo a antecipar eventos apocalípticos que não ocorrem se questionarem sobre a credibilidade que se lhes pode atribuir. Isso ajudaria toda a gente a perceber que aqueles que seguem a narrativa do "atoleiro", da "resistência" e da "guerra civil" não estão a fazer o relato do que acontece nem estão a analisar. Estão apenas a tentar, através de métodos próprios da feitiçaria, que as suas palavras se transformem em realidade."

Luciano Amaral sofre daquilo a que eu chamo de cegueira selectiva ou o mais comum "só vê o que quer ver". Isto porque este constata que não existe nenhuma guerra civil no Iraque ou seja os inúmeros atentados quase diários não são motivo de alarme porque ainda não surgiu no horizonte vocabular as duas palavrinhas mágicas: guerra civil. Portanto se não o dissermos é como se tudo estivesse bem, as 100 mil mortes são apenas danos colaterais e os mortos resultantes de atentados e execuções são quezílias domésticas. Mas não se preocupem porque guerra civil não há e mesmo que houvesse as palavrinhas ainda não circulam nos meios de comunicação e isso é o equivalente a não existir.

A frase seguinte recuso-me a comentá-la mas fica o registo para apreciarem. Sabendo que ser professor universitário não nos concede honestidade intelectual e infelizmente esta também não se adquire por osmose, caso contrário eu oferecia de bom grado uma tina de água com honestidade intelectual dissolvida, sem me preocupar com a concentração da mesma visto que perante a ausência de honestidade intelectual qualquer meio contendo honestidade intelectual é mais concentrado.

"Ou talvez preferissem a "paz" saddamita, sob a qual se estima que tenham morrido cerca de 700 mil pessoas. Segundo a agência americana Iraq Body Count, morrem hoje naquele país, em média, cerca de 30 pessoas por dia. Mais uma vez, como diz Mark Steyn, mesmo se tomarmos por verdadeiros esses números de fonte suspeita (a Iraq Body Count pretende o fim da presença americana no Iraque), ainda fica uma margem de centenas de milhares de mortos para que a ocupação atinja a mesma eficácia genocida da situação anterior. Ou talvez preferissem que Saddam não tivesse sido deposto e continuasse a ameaçar o Koweit, a Arábia Saudita, o Médio Oriente e, logo, o Ocidente, e que não tivesse havido três eleições e a redacção de uma constituição aceitável sobre a qual é possível pensar em construir um regime consensual."

Já agora veja-se o quão insuspeito é Mark steyn, tendo em conta que ele tem um livro chamado "The CNN´s cold war" em que este visa a "mania da perseguição levada a cabo" pela CNN.

"O Iraque actual não é, de facto, a sétima, nem sequer a sexta, maravilha do mundo, mas tem muitas vantagens sobre o antigo."

Que rapaz modesto, eu ouvi dizer que lá os passarinhos cantam e as criancinhas correm alegres nos jardins.

Enfim, de facto o ensino deve estar mesmo mal, porque veja-se este professor universitário que não consegue exercer uma opinião sobre política internacional sem sair do registo do "gajo de Alfama". Opinação directa, simples, sem grandes porquês, sem se analisar a si mesmo, considerando qualquer dissidente uma fonte suspeita e os seus "compadres" íntegros analistas da situação internacional. Se calhar eu tinha mesmo razão, o sucesso do ensino está em mostrar ao aprendiz como não ser (não quero generalizar mas já o fiz, não foi?).

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