quarta-feira, maio 31, 2006

Cura para insónias

A esta hora costumo estar a dormir, isto resultante do facto de me deitar muito tarde...
Ora que melhor remédio para manter-me acordado e restabelecer o sono ao horário normal?
Pois claro, ler umas barbaridades, e assim fiz, fui ao Blasfémias e li este singelo post e sinto-me tentado a responder a algumas perguntas.

"Sendo certo que são os portugueses quem sustenta com os seus impostos o sistema de ensino como é possível que não possam escolher entre entregar essa verba a uma escola pública ou a uma privada?"

A questão é simples, é que os portugueses não se importariam de contribuir para escolas privadas, isto se o paradigma do privado mudasse de forma tão radical ao ponto de já nem podermos chamar-lhe privado. Para isso o privado tinha de adquirir alguns "vícios" do público entre os quais os de podermos eleger os gestores desse mesmo ensino, que o privado fosse economicamente tão acessível como público, que o privado não fizesse a pré-selecção que faz dos seus alunos para depois parecer que são grandes estabelecimentos de ensino quando na realidade limitaram-se a tirar o insucesso das estatísticas....enfim muita coisa.
Mas prefiro até analisar a própria questão em si, a questão está posta de forma perversa, ao ponto de eu ser quase levado a concordar com o facto de se tratar de uma injustiça essa condicionante mas rapidamente se desmonta esta aparente ditadura, que na realidade não é mais que a "ditadura" da solidariedade. Na realidade podemos optar pelo ensino privado, a questão que nos é posta é que tendo de contribuir obrigatoriamente para o ensino público estamos a tirar a liberdade de escolha, porque se as pessoas já contribuem para o ensino público não irão também depois pagar para frequentar o privado (já conheço esta lenga lenga desde os tempos da carochinha).
Então mas afinal como é que ainda não houve uma revolta massiva da população contra esta "ditadura", pois claro que não houve nem vai haver porque a obrigatoriedade de contribuir para o ensino público está associado a um princípio de solidariedade e também a um modelo de gestão público. O princípio de solidariedade está assente no princípio de que se todos contribuirmos para o ensino público, cada contribuição será mais pequena e mais suportável e assim fomentamos um projecto colectivo que permite ter um ensino acessível a todos (isto até ao 12º).
Se eventualmente cada indivíduo pudesse utilizar essa contribuição para escolas privadas deixava de existir o princípio de solidariedade, visto que havia uma dispersão de capital por vários núcleos de gestão dispersos que por sua vez podiam praticar os preços que quisessem e assim claramente marginalizar uma parte da sociedade. Além disso ao não contribuir para o ensino público perdia-se o tal modelo de gestão em que todos contribuimos um pouco para melhorar muito a vida e possibilidades de outros, perdíamos também um modelo de gestão em que elegemos um governo que depois irá gerir o ensino, ou seja perdemos também alguma margem de manobra para participar de forma activa no ensino. Lá está, para isto que eu disse ser falso era preciso mudar o paradigma de privado, a tal ponto de o deixar de ser.

"Mais grave ainda como é possível que nem sequer possam escolher a escola pública que querem?"

Ui agora é que não adormeço mesmo...
Pois é, de facto os alunos estão condicionados à sua área de residência mas isso tem um princípio lógico e economicista com o qual a autora até se deve identificar, esse princípio é o da racionalização, como será perceptível se condicionarmos os alunos a se deslocarem às escolas da sua zona evitaremos mais tráfico automóvel e também que os autocarros (ainda bastante usados por estudantes) façam trajectos mais longos (mais despesa). Ainda há quem na caixa de comentários se condoa com os coitadinhos dospobres que não podem sair da sua zona de residência, apesar de sabermos que esta ânsia por poder escolher escolas fora da área de residência é precisamente para alunos de outras classes que querem fugir das escolas problemáticas. Além disso para sermos sérios devíamos discutir como é possível que exista esta discriminação social ao ponto de criar "ghettos" e depois, sim, falar de forma séria das oportunidades que de facto queremos para os mais marginalizados.
Além disso é ainda mais estupidificante ler estas frases (do comentador e da autora do post) quando lendo a pergunta anterior se sabe que existe um certo incómodo em ser obrigado a contribuir para as escolas públicas e que esses princípio visa principalmente dar essas mesmas oportunidades aos tais "coitadinhos".
Se juntarmos as peças percebemos bem o caminho traçado, repare-se que se quer liberdade para escolher o local de ensino (fugir para longe dos pobres) e que simultaneamente se revela o desejo por poder contribuir para o ensino privado em alternativa ao público (fugir ainda mais dos pobres e deixá-los na merda).

P.S. Agora espero que Joaninhas, Ruizinhos e Pedrinhos (este ao que parece está sem internet) também falem de ensino, é que parece que lhes é matéria afecta...

1 comentário:

Anónimo disse...

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