quinta-feira, maio 04, 2006

Pois, mas agora estou no poleiro

Depois de me ter admirado com as severas críticas de Diogo Freitas do Amaral à administração norte americana eis que o mesmo tem revelado agora no poleiro a sua identidade mais real, a identidade PP. O MNE estrangeiros sofre de uma certa bipolaridade, coitado, existe um Freitas crítico e defensor dos direitos humanos e existe o Freitas MNE.
Assumindo uma posição meramente seguidista, estamos perante um "espera a ver qual é a decisão do manda chuva que nós vamos atrás", assim sendo a ofensiva norte americana tem sempre seguidores porque vamos ter sempre políticos pequenos. É no entanto interessante verificar que perante esta situação o MNE adopte uma posição semelhante de estupidificação da questão, na altura da intervenção no Iraque Durão dizia que prefiria estar do lado dos americanos do que lado dos iraquianos, agora Freitas diz que "PS prefere ser 'sósia' de Bush a 'sócio' do Irão". Só pela maneira estupidificante como é posta a questão dá para ver o calibre da personagem, mas é natural porque normalmente Freitas parece mais inteligente quando critica a direita, mas à esquerda não vai lá só com bitaites...

Deixo no entanto aqui o parte bitaite de Ana Drago na Assembleia:

"O argumentário da nova cruzada em preparação é, tal como no passado, simples e de senso comum: Não podemos permitir que um país marcado pela institucionalização de um regime autoritário, desrespeitador dos direitos humanos e descrente da democracia venha a dispor de armamento nuclear.

É um argumento válido, e merece a nossa reflexão.

Mas tropeça nas evidências do mundo: infelizmente, neste domínio, o Irão não está sozinho. Pelo contrário.

Coreia do Norte, China, Paquistão – todos estes países estão um passo à frente – já têm armamento nuclear: E não são, concordaremos certamente, merecedores da designação de democracias.

Ora, é a estranheza de ver George W. Bush receber na Casa Branca o General Pervez Musharraf, ditador do Paquistão, ao mesmo tempo que arruma o Irão no já famoso eixo do mal – é esta estranheza, a estranheza da duplicidade da administração americana que deve guiar a nossa reflexão sobre a escala belicista em torno do Irão.

E são várias as inquietações, as estranhezas deste debate:
A primeira inquietação é perceber o Tratado Não-Proliferação de Armas Nucleares prevê, permite, e quase incentiva os Estados sem armamento nuclear a desenvolver programas nucleares civis.

Diz o Tratado, no seu artigo 4º: “Nada neste Tratado deve ser interpretado como afectando o direito inalienável de todos os seus subscritores a desenvolver pesquisa, produção e uso de energia nuclear para fins pacíficos”.

Daqui se conclui que o Tratado prevê, e autoriza a pôr em prática o processo de enriquecimento de urânio, nos exactos termos que têm sido apontados ao Irão.

Ao ignorar as próprias regras do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o Conselho de Segurança das Nações Unidas – ironicamente constituído exclusivamente por potências nucleares – fere de morte um instrumento já de si tão debilitado, pela sua não subscrição por potências atómicas como Israel, a Índia e o Paquistão.

A segunda inquietação surge-nos quando de vermos repetida a lógica kafkiana das inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica. Se o que se sabe não serve de prova, exige-se a prova do que não se sabe. O Irão deve provar que não tem um programa militar atómico oculto.

O direito internacional não pode ser uma charada absurda, de inversão do ónus da prova. E depois de três anos de fiscalizações intensivas, é a própria AIEA quem assegura que não há no Irão recursos ou materiais nucleares declarados que tenham sido usados no desenvolvimento de um programa de armamento nuclear.

Ora, uma vez que não há prova tangível, a acusação trabalha no domínio das intenções. Aqui está o argumento contra o Irão: a intenção de num futuro próximo, usando os exactos processos que o Tratado permite, o Irão venha a fazer o que o Tratado proíbe.

A terceira inquietação é aquela que nos faz perguntar até que ponto as ameaças explícitas da Administração norte-americana nos últimos três anos ao regime iraniano acicataram o apetite do Irão por armamento nuclear.
Inscrito no Eixo do Mal por George W. Bush em 2003, o Irão pode ter chegado à conclusão, a que muitos outros já chegaram, que a bomba nuclear é hoje a melhor garantia, a melhor protecção contra os apetites imperiais da administração fundamentalista que lidera os EUA. "

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