domingo, outubro 15, 2006

Conjuntura


Acho que se eu disser que o político é um "animal" que se adapta às circunstâncias ninguém estranhará, logo ninguém estranhará que nesta conjuntura Sócrates tenha feito questão de associar a sua imagem de forma mais directa à questão do aborto. Ora se Sócrates propõe o referendo ao aborto é porque sabe que provavelmente ganhará, assim como sabia que ao propôr Soares este perderia...mas até dava jeito. A questão é que este precisa de uma vitória, precisa de algo que silencie o descontentamento por algum tempo. "O fim da linha" para Sócrates não será necessariamente uma derrota eleitoral, será sim o fim de uma época de prosperidade simulada, será uma época em que nem os próprios "media" que simulam esse contentamento o vão fazer. Desconfio assim que vai começar um nova época, (ou terá já começado) as "infelizes declarações" de Manuel Pinho serão talvez uma precipitação estratégica, quer no sentido de pôr meio país a falar do acessório, quer no sentido de deixar uma aura de bons tempos no ar. Este PS é um partido tecnicista no que concerne à sua relação com a comunicação social, avisa-nos que somos despesa para depois nos cobrar, avisa-nos da insustentabilidade para depois "reformar", avisa-nos numa estratégia "Bushiana", faz soar os alarmes para depois não haver discernimento para ponderar seja o que for, o suficiente para que um simples controlo de despesas passe por reforma.

A conjuntura é assim um agente abstracto que tem uma relação de amor-ódio com os políticos, umas vezes é a desculpa generalizada para todas as patifarias, outras é materialização generalizada do descontentamento que obriga a sacrifícios.
Seja como for, a relação é do agrado do político quando assume a forma de objecto e de desagrado quando exige compromissos por parte do mesmo.

P.S. Na figura está simbolizada a capacidade do "animal" se moldar, se adaptar às cirscunstâncias, talvez seja o político o melhor discípulo de Darwin.

1 comentário:

botadeelastico disse...

Sócrates será, por ventura, a última grande etapa no desenvolvimento da espécie humana. O político, a meu ver, não é discípulo de Darwin, mas sim o resultado da evolução, um primata de ímpar mobilidade e traquejo da oralidade. Mas no que respeita à escatologia, continua com o instinto animal extremamente apurado, descobrindo outros orifícios para descarregar a sua verbe.
A proposta de Sócrates, "constitui um instrumento poderoso para acabar com o falgelo" que é o aborto clandestino. Correcto! Mas necessitamos de um referendo? Necessitamos de um acto para-eleitoral que não trás qualquer mudança estrutural na sociedade!? Digam quantas mulheres foram punidas por ter recorrido à interrupção da SUA gravidez? Numa óptica económica, justifica-se esbanjar dinheiro num eventual acto cujo vinculação do poder político-legislativo será sempre questionável!? E no caso de suceder o mesmo que há oito anos, em que a abstenção foi superior a 50%? Marcarão esse acto para um feriado ou fim-de-semana prolongado? As legislativas foram há tão pouco tempo e quem votou no partido do "xor" Sócrates Pinto de Sousa sabia que ele iria promover a alteração do enquadramento penal do aborto! Para quê um referendo? Os deputados não são pagos pelos nossos impostos para decidirem de acordo com as tendências sociais, culturais, morais, políticas, económicas da comunidade portuguesa?
É de facto o político o primata mais esquisito e que um comum primata como eu não consegue compreender!
O "xor" Pinto de Sousa consegue, na sua hábil e expedita capacidade oratória, própria do ser mais evoluído (Bush não faz parte desta espécie, pois é meio-político, errático, ditatorial e asno) reivindicar que qualquer projecto a implementar pelo seu governo (seja ideia deste ou não), que é sempre "um projecto inovador que potenciará o desenvolvimento económico do país"! Mesmo que seja treta e que o primata comum o perceba.