terça-feira, setembro 25, 2007

Gramaticalmente e na prática...uma treta

Castanheira Barros, candidato que não conseguiu assinaturas suficientes para entrar na corrida a secretário geral do PSD, diz ter uma proposta inovadora e é a seguinte:

"Na economia, defendo um capitalismo solidário através de uma simbiose entre o capital e o trabalho, com estruturação de carreiras e regras bem definidas para a aposentação"

Admitamos que, parcialmente, este indivíduo seja bem intencionado e que o próprio esteja convencido que seja possível uma "exploração razoável" da classe trabalhadora não detentora de meios de produção. Mas introduz um conceito errado, por uma razão simples, esta insistência numa forma de capitalismo que é solidária, equitativa...justa, é uma reformulação radical do conceito de capitalismo, e quando arrancamos pela raiz o conceito morre. Assim relembremos o que signifcam estas duas palavras:

Solidário

do Lat.solidu, sólido
que tem interesses e responsabilidade mútuos que torna cada um de muitos devedores obrigado ao pagamento total da dívida;

que dá a cada um dos credores o direito de receber a totalidade da dívida;

designativo de pessoas que, de certo modo e dentro de alguns limites, respondem umas pelas outras;
que se sente do mesmo modo;
que dá apoio ou auxílio a;
recíproco;

interdependente.

Capitalismo

s. m.,
regime económico e social caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção e de distribuição, pela liberdade dos capitalistas para gerir os seus bens no sentido da obtenção de lucro, e pela influência dos detentores do capital sobre o poder político.

(Priberam)

Embora estas duas transcrições pequem por pobres, acho que percebemos que os dois conceitos são, se descontarmos descontextualizações oportunas, antagónicos. O capitalista que é solidário não é capitalista e o solidário que é capitalista é político... Todos percebemos que a obtenção de lucro parte da hipocrisia e da injustiça dos sistemas vigentes, isto porque o lucro é o prejuízo de outrem, que isso fique bem claro, não há empates e os perdedores não costumam voltar e vencer. O lucro traduz quantitativamente o excesso pelo qual um serviço ou bem é taxado em relação ao custo da sua produção, mas se o lucro levanta o problema entre a necessidade de baixos salários e desemprego para manter o capitalismo de boa saúde, outra questão que se põe é a do lucro sobre o lucro. O lucro sobre o lucro será no fim de contas o desajuste entre a margem de lucro de diferentes produtores, além disso, analisar o lucro percentualmente pode ser um erro crasso, basta pensar que 50% de lucro numa empresa de pequena dimensão de meias e 30% de lucro numa mega empresa concessionária de automóveis é abissalmente diferente. Aqui tratamos de uma injustiça que incide não só sobre a relação empregador-empregado como sobre a relação entre pequenas/médias empresas e grandes empresas. Existe uma relação desconfortável entre ser solidário e taxar excessivamente pela sua produção, ou seja uma relação honesta de solidariedade associada ao capitalismo é impossível. E ser solidário não é aos sábados, ou é a base da política ou então é populismo saloio. Obviamente estamos perante o populismo saloio, mas Menezes terá com certeza bem mais que oferecer nesse capítulo...as produções fictícias já devem esfregar as mãos de contentes.

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