terça-feira, julho 11, 2006

Os grandes não são perfeitos


O facto de termos sido derrotados pela França tornou a expulsão do "vilão" Zidane num balsámo para as nossas mentes vingativas, mas quer vingança quem adoptou a perspectiva belicista veiculada pelos mérdia (autoria do Dito Cujo). O futebol, enquanto espectáculo, ficou pobre não porque a selecção nacional foi eliminada nas meias finais mas porque nenhuma equipa com predisposição ofensiva e triangulações bonitas teve o sucesso de sequer chegar às meias finais.
Zidane terá reagido intempestivamente às provocações de Materazzi, e fez mal, mas que fique bem claro que isso não invalida o facto de este ser um grande jogador de futebol, o melhor do mundial, porque assim como orgulhosamente defendemos Mourinho como o melhor treinador do mundo apesar dos seus defeitos, também deviamos ter o discernimento de pensar que Zidane fez o percurso mais brilhante de todo o mundial apesar de ter acabado numa fulminante marrada no peito de Materazzi.
Fica assim patente mais uma das razões porque o orgulho na pátria se não for racionalizado engloba a estupidificação, porque alteramos os nossos padrões comportamentais e valores e subjugamo-los ao "orgulho em ser português".

A FIFA teria promovido a violência se não tivesse expulso Zidane, a cabeçada de Figo ao jogador da Holanda abalou a nossa opinião a cerca desse grande jogador???

6 comentários:

Macambúzia Jubilosa disse...

Isto do Zidane é algo que também me tem feito pensar...

Foi expulso e muito bem, mas tb acredito que para o ter feito, foi porque foi altamente provocado.

Acredito inclusive que tenha sido estratégia intencional dos Italianos provocarem-no ao máximo para que fosse expulso antes dos penaltyes. Mas enfim...isto pode ser só uma teoria da conspiração...

A questão é: ser-se bom jogador é só técnica? E encaram-se as agressões como algo natural, um risco intrínseco ao jogo? Ou ser-se bom jogador é técnica e fair play?

Em função da forma como se encara e são definidos os critérios para ser-se bom jogador, se fazem as respectivas avaliações.

Pessoalmente ainda não consigo ter uma opinião formada sobre se ele merecia o titulo ou não. Por um lado acho que sim, porque de facto, é um excelente jogador. Por outro lado, premia-lo e assim, credibilizar o facto de ter-se armado em toiro enraivecido...Não sei...

Se fosse o Figo, pensava da mesma forma. Mas isso sou eu e duvido que realmente todos os Tugas pensassem assim...

João Dias disse...

MJ:
Vou pegar na questão do fair play fazer parte dos critérios, não é que eu ache que o fair play deva ser arredado dos critérios. A questão é que se de facto formos rigorosos na questão do fair play não sobrava um jogador, mas é que não sobrava mesmo. Todos os jogadores já tiveram os seus momentos menos bons, para grande azar de Zidane isto passou-se numa final. O segundo classificado de que ninguém fala dele (Cannavaro) mandou uma cotovelada logo no início do jogo ao Thiery Henry que o pôs inconsciente. De forma mais subtil é certo, mas também não ficaria bem premiar a subtileza desse tipo de gestos. Além disso a história pesa, Zidane era um jogador que não tinha muitos problemas disciplinares, isto apesar de veicularem a notícia de que este tinha na carreira 14 vermelhos, é bastante fácil perceber que ele receberia menos de um vermelho por ano. É claro que eu acho que Zidane esteva mal, mas junta uma beliscadela no peito, umas frases simpáticas e cansaço q.b. e percebes que estavas a pedir que ele fosse estoico. Já Materazzi é um diabinho sem precedentes, aliás fica aqui um videozinho do artista:

Materazzi

Já agora deixa me pôr-te a questão da seguinte maneira, por exemplo no ensino tens dois alunos, um com boas notas mas com um feitio arrogante e outro burrinho mas, coitado, boa pessoa, como conjugarias o "fair play" nesta situação?
Ou seja como é que consegues conjugar o flair play numa questão de capacidades sem acabares por promover alguém que em termos dessa capacidade até possa ser uma nulidade?

Macambúzia Jubilosa disse...

Talvez seja tudo uma questão de equilibrio.

É como a inteligência. Sempre se encarou esta como a intelectual, que inclusive podia ser mensurável.

Acontece que igualmente importante é a inteligência emocional (e no fundo acho que é dessa que aqui falamos). Pode-se até ser a pessoa mais inteligente do mundo, com uma bagagem cultural enorme, uma elasticidade e rapidez intelectual imparáveis, mas depois se não se sabe usa-la, se ao nível da relações inter-pessoais é-se uma desgraça e se isso inviabiliza a sua evolução enquanto ser humano, pouco lhe serve a inteligência intelectual...

O Zidane tem a inteligência técnica e faltou-lhe a inteligência emocional.

E os jogadores tem que ter/ saber/aprender/ser estimulados a desenvolver essa capacidade (de gestão de emoções).

Ou seja... talvez se deva encontrar um equilibrio entre ambas.

Mas falamos de coisas sérias. Falamos de violência... violência física.

É uma questão de legitimização. Se vamos achar que a violência, o perder as estribeiras é algo natural e impossivel de controlar num jogo de futebol (e eu até acho que deve ser) e portanto, de nada vale condenar e castigar (sim, castigar, enquanto reforço negativo), estamos a dar aso e a credibilizar a violência.

E cada vez mais acho que também a avaliação pedagógica e a escola devem servir não só para dotar os alunos de instrumentos que os capacite para a vida profissional, mas acima de tudo para serem bons cidadãos e sim, porque não? boas pessoas.

Um aluno que até tem algumas dificuldades em aprender mas tem receptividade e humildade em relação aos outros e ao próprio conhecimento e que tem caracteristicas humanas de louvar, até pode vir a ser uma pessoa mais útil e fundamental à sociedade e à humanidade em geral do que aquele que apenas é inteligente.

Voltando ao Zidane, e acho que, no fundo, estamos a dizer a mesma coisa: Não conheço bem o percurso dele, mas se de facto, não era apanágio dele a falta de fair play, e sendo um bom jogador, não deve um episódio isolado, ser motivo para não ganhar o prémio de melhor jogador. Como disse, é preciso levar tudo em conta, colocar tudo nos pratos da balança e avaliar, com critérios definidos.

E um mau exemplo nunca pode justificar os outros maus exemplos. O Zidane procedeu mal, o Materazi procedeu mal. O Canavaro procedeu mal. E cada um deles tem/devia ser responsabilizado por isso.

E por acaso até acho que sobravam jogadores. A verdade é que só vemos os que agridem,porque é algo sensacionalista, mas há muitos que não o fazem, simplesmente desses não se fala.

Pelo menos quero acreditar nisso...

Enfim, mas isso sou eu que sou uma lírica :)

Pedro Morgado disse...

Caro joão,

Devo esclarecer que o que me choca é a divergência de critérios da FIFA: afastou Ronaldo do prémio de melhor jovem devido à falta de fair play e entrega o prémio de melhor do mundial a um jogador que agrediu outro...

João Dias disse...

MJ:
É sempre a mesma coisa, obrigas-me a concordar contigo. :-)

Eu disse e continuo a dizer que acho o que o Zidane fez condenável, mas ironicamente a FIFA pondera retirar-lhe o prémio que irá para o mestre da cotovelada Cannavaro.
Também não quero justificar o mau exemplo do Zidane com o do Materazzi, simplesmente quis deixar bem claro que um teve momentos menos felizes como todo o jogador (sem excepção ou quase) enquanto o outro tem uma carreira consistente na arte de distribuir mimos. Por exemplo, se pensarmos na selecção nacional eu acho que há jogadores correctos (Ricardo Carvalho por exemplo), no entanto eles são macroscopicamente correctos, pontualmente todos tiveram atitudes menos correctas, é quase como eu te estar a dizer que eles são humanos.
Nesse ponto de vista acho injusto que não se veja um todo, e no todo, e para mim, Zidane foi o melhor do mundial e se não fosse o Zidane seria o Torres da Espanha que nem sequer está entre os dez eleitos.

Em relação à dicotomia humanidade VS inteligência. É claro que esperamos sempre a conjugação desses dois factores mas não os tendo em simultâneo, eu devo dizer que, embora me custe, premiaria a inteligência (o "know how"). Por exemplo, por muito que me custe ter de ser atendido por médicos arrogantes e antipáticos mas eventualmente competentes, seria mais importante para mim ser atendido por essas bestas do que por um jóia de pessoa que simplesmente não me iria conseguir ajudar. Eu sei que os moldes em que eu ponho a questão são hiperbólicos, mas só assim dá para perceber o porquê de às vezes termos de "engolir sapos".

Joana:
Disseste uma coisa que não posso deixar passar, quem sabe fruto da tua visão mais apaixonada pelo mundial do que pelo futebol. Que fique bem claro que eu gosto é de futebol, e sou muito crítico em relação à selecção italiana pelo facto de praticarem um futebol defensivo que mina o espectáculo e que deixa a responsabilidade por assumir o risco e o maior cansaço à outra equipa. Eu não sou anti-itália, isso é racismo e eu não sou racista, não gosto é do futebol praticado, assim poderias dizer que sou anti-grécia, anti-frança, anti-portugal...

Pedro Morgado:
Não sabia dessa justificação para não escolher o C.Ronaldo, nesse caso subscrevo por inteiro as tuas críticas.
No entanto a FIFA disse que ia analisar o caso de Zidane e pondera retirar-lhe o prémio...

João Dias disse...

Joana:
A ser rigoroso não tenho de ser anti-futebol, porque o futebol não se esgota no futebol porfissional e mesmo no futebol profissional existe qualidade, exemplos do mundial:
Espanha, República Checa, Equador...