segunda-feira, julho 28, 2008

Pedido de uma amiga

Recebi por email um pedido de uma amiga que tem um filho autista. Em vez de apresentar eu a situação, fica aqui o apelo pelas palavras da própria!
"Tenho o meu filho internado em Psiquiatria no Hospital de Aveiro. Estar no hospital já não é nada agradável, agora imagina o Serviço de Psiquiatria! Assim, e como já me deves conhecer, há coisas que não tolero. Sou muito paciente em tudo e tenho aguentado a barra sozinha, mas agora chegou a hora de dizer basta. Incitada pelas condições desumanas (suponho que este termo não é assim tão forte para a realidade que lá existe) em que estão os doentes de Psiquiatria e os profissionais de Saúde daquele Serviço, escrevi um artigo para o jornal Público, cuja publicação ansiosamente aguardo, na secção das cartas ao Director (como me foi garantido). Amanhã também segue uma carta para o Senhor Presidente da República. O tema das minhas missivas tem a ver com o ex-Centro de Saúde Mental em S. Bernardo, pois é inadmissível, tal como disse ao Sr. Presidente, haver terrenos do Estado a apodrecer enquanto 33 doentes, porque não há espaço para mais, estão emparedados numa ala de Hospital sem ar fresco e céu. Face ao que te disse, preciso de todos vós, ou melhor, sem politiquices nem outra qualquer cor, Aveiro precisa de um lugar condigno para aqueles que não o podem pedir e seremos todos nós a pedir em nome deles. Que quero eu de ti afinal? Que leias a carta e que divulgues ao máximo esta intenção, pois sei que és filho de Aveiro e meu amigo.
Sei que o meu pedido não vai esmorecer em ti nem naqueles a quem eu já falei e que se predispuseram ajudar, porque o caso não passa só pelo encerramento de S. Bernardo, que já foi, mas de muitas Instituições, nomeadamente o Casci, que eles, gostariam de ver encerrado e os pais que se amanhem, pois segundo alguém proferiu a seu tempo e em outras circunstâncias, mas não a mim, não estamos aqui para resolver todos os problemas do mundo."
Resta-me pedir a colaboração de todos e remeter-vos para o modus operandi do Governo no que respeita estas matérias, que se encontra na Resolução do Conselho de Ministros nº 49/2008.

P.S. - Como é óbvio, esta resolução tem pouco de resoluto, se é que me faço entender.

13 comentários:

Anónimo disse...

Confesso que está é uma realidade sobre a qual não possuo muita informação, contudo, e fase ao relatado anteriormente, acredito que o nosso país é cada vez mais um lugar de politicas e interesses, pois cada vez mais as medidas tomadas são sobretudo politicas e inovadoras, práticas e eficazes. Num tempo em que se assume a educação como fundamental à estruturação de um país e onde o incentivo a natalidade é chavão… a realidade com que nos deparamos é bem diferente, ou seja, cada vez mais acredito que estamos governados por alguém que quer destruir tudo, de forma a poderemos finalmente ser agregados a outro país, mas se assim é, ao menos deixem-nos escolher o país, pois não quero ser espanhol nem chinês… Não sei o que mais posso dizer, mas sei que não posso mais estar calado perante tanta indiferença que corre na nossa população, somos um povo aventureiro e lutador, mas depois do 25 de Abril de 1974, parece que tudo isto foi esquecido… afinal onde estão as novas ideologias do 25 de Abril???? Estar na Europa é estar constantemente a ser referido como os piores???? Ou Será que outros países precissam de nós para não estarem no final da lista??? Vamos exigir, reclamar e tentar lutar contra a corrente de democracia condicionada e viciada.

MP

Rui Maio disse...

Caro MP:
ao ler a sua última frase, apetece-me gritar, qual arauto, um forte e sentido: TÁ A ACORDAR, PORTUGAL!

Anónimo disse...

Olá, bom-dia, Portugueses,

Sou a Milú Calisto, a tal amiga do Rui Maio que lhe pediu ajuda. Para reforçar esse pedido, informo-vos que a carta ao Sr. Director do jornal Publico já foi publicada e ao qual muito agradeço. No entanto, e para estarem a par da realidade deste país, quero também que saibam que no CASCI em Ílhavo, onde o meu filho, agora internado no Hospital, tem a sua segunda casa, estão alguns dos seus amigos na iminência de virem para "o olho da rua" como se diz em "bom português", porque o CRSS de Aveiro não tem vontade em autorizar o aumento do número de vagas para alargamento do CAO. Pergunto, então, quem é que maltrata os deficientes, será o CASCI como está a ser acusado em Tribunal ou o nosso próprio Governo? Pensem e respondam com consciência! Se for necessário, esclarecer-vos-ei.

Paulo Martins disse...

Boa Tarde a todos...

tambem sou do distrito de Aveiro, mas mais a norte.
no entanto este assunto é algo que nos toca a todos sejamos de Aveiro, Porto, Lisboa, Norte, Sul, Este, ou Oeste.
claramente não podemos ficar de olhos fechados a casos como este.
Sou pai de dois filhos, um de 9 e outro de 3, e claramente considero-me um felizardo. Tenho a sorte de ambos serem muito saudaveis até aos dias de hoje. Conheço a história da nossa "Milu", e infelizmente tambem tenho um caso de um menino autista na familia. Não é tao grave como o da Milu mas mesmo assim muito complicado. Por isso compreendo um bocadinho aquilo por que a Milu passa e os seus sentimentos.
Estou contigo Rui, quando dizes que temos de erguer um grito forte, muito forte. Nós portugueses temos por norma remediar as situações, somos bons a desenrascar as situações, a por "remendos". Pois é a "nossa Cultura". Só pomos as mãos na quando nos acontece a nós. Quando nos incomoda no nosso bem estar.
Já está na altura de mudar, de sermos mais comunidade e de preocuparmos com os problemas reais da nossa sociedade e comunidade. Deixemo-nos de ilusões e vivamos a realidade.

Rui Maio disse...

Caro Paulo:
obrigado pelo seu comentário. E no que toca a "sermos mais comunidade", penso que a Internet e, em particular, os blogs podem ter um papel importante na aproximação que fazemos uns aos outros, das causas uns dos outros.
Volte mais vezes que é sempre bem-vindo!

Um abraço

Anónimo disse...

Olá boa noite,
Foi com agrado que finalmente li o artigo da “Milú” no jornal Público. Apesar de curto é bom saber que ainda podemos fazer ouvir o que nos perturba.
Conheço o filho da “Milú” e a sua história. Calculo o quanto será devastador para uma mãe ver um filho num serviço de psiquiatria, por isso solidarizo-me com a sua luta, pois como portuguesa e mãe não o poderia deixar de fazer.
Quero acreditar que vivo num grande país, mas para todo o lado que olho só vejo descontentamento, desrespeito e o contundente "lavar daqui as minhas mãos".
Não é este o Portugal em que cresci e não é este o Portugal que pretendo para os meus filhos.
Somos um país de fado, mas cabe-nos impedir que o nosso destino seja tão trágico e amargurado.

RS

Rui Maio disse...

Cara RS
obrigado pelo seu comentário!
E para acreditarmos que vivemos num grande país, temos de ser nós a construí-lo, todos os dias! E isso nota-se quando nos vamos juntando, lentamente à volta das mesmas lutas...

Panela de Escape disse...

Conheço o caso da Maria de Lurdes. Ou melhor, da Milu. Da Milu e do Diogo. Ou melhor, do Dô. Sim, porque os diminutivos, que habitualmente utilizamos por uma questão de afectuosidade, não deixam de fazer sentido porque o assunto são crianças autistas, ou, então, aquilo a que, falando desassombradamente, chamamos de deficientes ou de “atrasados” mentais.
Sei a empatia e a preocupação que movem a Milu, e esses sentimentos têm toda a razão de ser, porque se não formos nós a querer mover as montanhas, ninguém as moverá por nós. Mais: se é isto uma democracia, com todas as imperfeições que possa conter, uma democracia não deixa, etimologicamente até, de ser isso mesmo: a demo-cracia, isto é, o poder do povo. O poder está sempre no povo, o poder está em nós - o poder de fazer, o poder de mudar, o poder de construir. O nosso poder não pode restringir-se a uma cruz sobre uma folha de papel em tempo de eleições e deixar que, em todo o resto, sejam outros a guiar-nos, sem sabermos muito bem para onde. Cabe a cada um de nós deitar a mão ao leme e conduzir também, por um pouco, o nosso barco colectivo entre tormentas e bonanças. A vida tem de tudo. E é por isso mesmo que uns nascem de uma maneira e outros doutra, mas todos são seres humanos e merecem receber a atenção adequada pelo que são.
Afinal, quem são os tais “atrasados” mentais? Serão essas crianças que, desapoiadas, desamparadas, carecem de um pouco de sol, de luz na sua vida, de um ar que se respire, liberto e puro? E quem diz essas crianças, diz essas famílias, que passam, por vezes, por autênticos calvários, presos ao seu drama pessoal. Ou serão aqueles que, arvorando-se em grandes paladinos da moral, em grandes fazedores, legislam belos floreados, belas intenções, mas depois nada transportam para a prática? Afinal, exprimem um pensamento, mas não o prolongam, de forma alguma, no real, ou seja, o que fazem fica atrás do que prometem, os gestos ficam bem aquém, bem atrás da cabeça. Afinal, então, quem são os atrasados mentais?...
Cada um faz o que pode, mas quantos de nós se conhecerão exactamente a si próprios, saberão exactamente aquilo de que são capazes? Nós podemos fazer uma diferença, avançar, em suma, e não ficar, nos gestos, atrás daquilo que pensamos.
Todo o meu apoio e todo o meu amor humano à Milu, à sua família, e ao Diogo, ou, simplesmente, ao Dô, que, ainda que aos olhos de muitos, possa ser visto como um “atrasado” mental, tem uma particularidade muito significativa, que é a de me chamar Tau, o que é um diminutivo, supostamente para o meu nome, não sei, mas um diminutivo, e, como dizia ao início, nós não utilizamos os diminutivos sem razão. Utilizamo-los porque temos sentimentos, utilizamo-los porque somos humanos – todos.

Anónimo disse...

Olá Tau,
se o Dô pudesse agradecer-te-ia por estas palavras. Ele não pode, mas agradeço-te eu. Também me questiono sobre os atrasados mentais do meu país e chego à triste conclusão, que os nossos regentes, supostos democratas, têm realmente comportamentos anormais e que nos tomam por "atrasados mentais". Vê só: perante tanto dinheiro já esbanjado nisto e naquilo, como é do conhecimento público, continuam com "rodriguinhos" no que respeita ao alargamento do CAO do CASCI. O que é que está afinal por detrás de tudo isto? Dinheiro? Má vontade contra o CASCI? Ou será que quem autoriza esteja a gozar as suas férias ou marimbando-se, simplesmente, para um problema que não é seu, deixando em ânsias os pais daqueles meninos? Eles que esperem, ainda há tempo! Será que é assim que pensa quem autoriza? Espero bem que não, pois se assim fosse essa gente teria de ser internada também numa ala de Psiquiatria, mas bem longe do Dô, porque ele não gosta que gozem com ele... e o CRSS está a maltratar e fazer pouco daqueles pais, que há já duas semanas esperam uma resposta a uma solicitação que nem sequer teria razão de existir, porque para estes nossos cidadãos deveriam ter direito ao melhor, porque do mundo já eles pouco têm.
Reiterando estas minhas palavras, acrescentarei que discordo com o dito do Senhor Director do CASCI (in Diário de Aveiro de ontem) sobre a sua convicção na sensibilidade da Segurança Social par a situação presente, se a segurança Social fosse de facto sensível a autorização seria imediata ao requerido.
Milú

Anónimo disse...

Sr. Rui Maio

Chamo-me Vanessa e sou prima da Milu e do Diogo, tenho grande admiração pela Milu e adoro o Diogo, embora não seja tão presente como gostaria de ser...
Chocou-me saber que o Diogo estava internado, principalmente porque se encontra na ala de psiquiatria de Aveiro.
Ler este apelo alertou-me e fez-me tomar consciência da situação em que se encontra o meu primo. Angustia-me saber onde e como está o Diogo e desespera-me saber que existem outros como ele...
Sinto-me Impotente perante tudo isto, gostava de fazer muito mais, gostava de ter meios, porque vontade não me falta, para alterar esta situação.
Só me resta divulgar este blog e usar a minha voz para lutar pelos que não a podem usar.
Tudo gira á volta de dinheiro e partidos e POLITICAS...
Infelizmente, cada vez mais me deparo com uma realidade, que é a do nosso Portugal, onde a preocupação primordial não é a dignidade e o bem estar do cidadão, referindo-me a TODOS os cidadãos, mas sim, desculpem a expressão, encher o papo de quem já o tem bem cheio.
É inadmissível e vergonhoso que o nosso governo invista MILHÕES de euros em Computadores Portáteis para crianças de 6 anos, quando existem situações como esta, cuja resolução é tão mais urgente e que, para a resolver, pouco ou nada se faz!
Caminhamos para um abismo de miséria e pobreza de espírito, e o pior de tudo isto é que me sinto de mãos atadas, sinto-me a ser empurrada pela multidão. E agora pergunto-me, se eu que sou adulta, consciente e autónoma me sinto assim, como se sentirá o meu Diogo, que apesar de adulto, é ainda uma criança?
Eu não sou Mãe, mas espero ser um dia, contudo assusta-me ter um filho e educá-lo neste País.
E se por ventura o destino me der um filho com alguma deficiência? Tenho medo, por tudo, porque é sempre complicado ter nas mãos uma criança assim. Mas tenho medo sobretudo pelo seu futuro! Que futuro terá uma criança deficiente, num país onde querem fechar as poucas instituições de valor, que existem para estas crianças?
Pergunto-me também: E se o Sr. Engenheiro Sócrates tivesse um Diogo como filho? Será que existiriam situações como esta ainda por resolver? Será que continuaria a existir esta indiferença para com a deficiência em Portugal?
Eu sou tão pequena perante estes Senhores do Poder, sou tão nova e tão inexperiente... queria ser grande, mas não muito... só o suficiente para poder falar num desses parlamentos e dizer umas verdades a esses Senhores que se dizem tão inteligentes e que, na verdade, andam cegos ou então não querem ver!
Desculpem, mas não consigo descrever o que sinto, ou melhor, desconheço palavras que possam exprimir, suficientemente bem, a raiva que sinto em relação a tudo isto!
Sr. Rui Maio, peço desculpa por este desabafo em forma de protesto que aqui deixo...
À Família Calisto deixo a minha palavra de apoio e carinho.
Não sei sinceramente onde encontram forças para tanto, a vossa vida tem sido uma luta imensa e é notável como nunca baixaram os braços...
Milu e Jo ser Mãe e Pai do Dô não é fácil, mas vocês são a prova de que o amor por um filho não tem limites! Milu orgulho-me por te conhecer, és um exemplo para todos nós!
Um beijo muito doce, cheio de carinho e saudades, ao meu Diogo...

Rui Maio disse...

Cara Vanessa:
obrigado pelo seu comentário!
Concordo consigo quando diz que "Tudo gira à volta de dinheiro e partidos e POLíTICAS..." Até me dá vontade de parafrasear George Orwell e afirmar que "Todos os políticos são iguais, mas uns são mais iguais que outros!" E, em Portugal, existem alguns que são diferentes, MAS não estão no governo!
O post "Mais uma fisgada" dá conta disso mesmo: iniciativas apoiadas por políticos para denunciar as desigualdades/problemas sofridos pelos deficientes (físicos ou mentais) e suas famílias.
No que diz respeito ao seu pedido de desculpas ("peço desculpa por este desabafo em forma de protesto que aqui deixo..."), não o vou aceitar visto que um blog também serve para isso mesmo - desabafar e protestar!
Volte sempre que é muito bem-vinda!

Anónimo disse...

Obrigado, Vanessa, pela tua força. Fiquei surpresa com as tuas palavras. De facto, o "poder" deveria, talvez, ser coisa de adultos maduros, responsáveis e sensíveis, mas chego à triste conclusão que só serve interesses daqueles que o têm na mão. Por isso, face ao que disseste, só poderei incitar-te a ti e à Juventude deste tempo para que estudem, para que se formem como bons profissionais e cidadãos e que comecem a olhar para o universo que vos rodeia e encontrem as diferenças a fim de lutarem por uma sociedade mais equitativa. Escuta, Vanessa, pensar é preciso, lutar ainda mais.

Anónimo disse...

Tinha o Diogo mais ou menos 6 meses quando a Milu detectou que o seu filho não seguia os movimentos.
Para além de ver mal o desenvolvimento intlectual do Diogo também não era normal.
Não desenvolvia a aprendizagem básica igual à de um bébé saudável. Algo estava muito errado.
De consulta em consulta e a ser visto por professores da pediatria o tempo ia passando.
Muitos possíveis nomes para a doença, mas o remédio para a sua cura teimava em não aparecer.
Hoje o Dô é um jovem adolescente que para além do défice de visão, não aprendeu a falar não se veste nem alimenta sozinho nem controla os esfincteres e com toda a agressividade inerente à adolescência. Incontrolável foi parar à psiquiatria do Hospital de Aveiro.
Que fazer? Que resposta nos dá a sociedade para casos como este?
Penso que esta não passa pela abertuta dos antigos hospitais psiquiátricos onde ser diferente era ser maluco. Daí a expressão “ ou te portas bem ou vais parar a S. Bernardo”.
Esta família de que o Diogo faz parte está desesperada.. Precisa que a ajudem a encontrar o meio em possam estar com o seu filho com tranquilidade, paz e mostrar que apesar da diferença vale a pena continuar a viver e sobretudo que o amam mais do que nunca.