sexta-feira, fevereiro 15, 2008

O desencanto de não estar iludido

Da terra dos sonhos, chega a podridão da sede de poder e dos limites que se quebram para atingir sempre mais, o caminho é em frente e a democracia o obstáculo. Não tenho mesmo ilusões quanto aos candidatos à presidência norte americana, tenho sim a desilusão de não estar iludido. Não caio na erro de, no meio da minha desilusão, dizer que todos os candidatos são iguais, digo sim que no essencial, e naquilo que efectivamente precisa de ser mudado não existirá mudanças. Não deixa de ser cansativo ouvir os candidatos a falar de mudança, como se na singela palavra estivesse aí a prova cabal que de facto isso iria acontecer. A questão essencial é que o modelo de desenvolvimento dos EUA é um modelo baseado na oportunidade, ou seja, a prioridade é manter a supremacia internacional, e se isso se faz com a diplomacia ou com a "democratização à bomba" é apenas um meio...e visto como tal. Se o conceito de democracia é pobre na Europa, nos EUA é mesmo arma de arremesso para as medidas mais anti-democráticas que há memória, quebram-se direitos humanos e matam-se civis e ainda querem fazer crer que daí a democracia sairá fortalecida. É estranho, mas é mesmo uma linha de pensamento que tem vasta aplicação, em Portugal Sócrates diminui as prestações do Estado Social para salvar o Estado Social, nos EUA, Bush investe na morte e na ausência de direitos para salvar a democracia. A política aliada a uma comunicação social prestável, conseguiu atingir o cume da hipocrisia, destruir para salvar, matar para dar vida.
Mas é toda a forma como está desenhada a política norte americana que esmaga qualquer ilusão, repare-se que no Arrastão Daniel publica os financiamentos dos candidatos querendo enaltecer que Obama será o menos financiado, mas o que interessa ressalvar é que os candidatos são financiados por interesses privados que colidem com as ambições de um Estado democrático. Financiamentos da indústria militar, de lobistas registados e membros das suas firmas e das companhias petrolíferas...não é possível conceber uma democracia forte quando os candidatos apresentam esta relação de dependência para com lobbys que, obviamente, tem como objectivo marcar uma posição não democrática na política. Repare-se que não falamos de organizações sindicais, ou grupos de pressão que através do diálogo fazem chegar as suas reivindicações ao poder democrático, falamos de empresas que financiando os candidatos garantem uma relação de dependência e garantem ter um maior peso na decisão política do que aquela que a democracia lhes confere. As bases da democracia estão minadas, não nos podemos iludir quando os mais básicos pilares da democracia são minados, nomeadamente ao nível do condicionamento ilegítimo da decisão política.

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