quarta-feira, julho 11, 2007

A nova moda de excelência..quotas


Não será grande novidade se eu disser que quando se fala de dinheiro fica tudo estúpido, sim de dinheiro, porque em lado algum será razoável que num processo de avaliação o acesso às melhores qualificações esteja à partida limitada. Se eu dissesse que nas universidades as notas superiores a 17 estivessem à partida vedadas a 75% dos alunos toda a gente achava ridículo, não é sério num processo de avaliação "ter vagas" para notas, por uma razão simples, isso inquina o processo avaliativo em si. Caso exista mais de 25% de indivíduos com essa classificação, o avaliador vai ter de inquinar o processo de avaliação para poder satisfazer o critério mor de vedar esse acesso aos demais.
Mas as quotas na avaliação pública não são mais que uma fantochada do governo para poupar dinheiro em ordenados de funcionários públicos, a este processo desonesto de contenção orçamental o governo teima em apelidar de reforma. Para já se o governo gosta tanto de excelência e preza tanto as avaliações não sei porque ignora a própria avaliação que muitos portugueses parecem fazer deste governo. Assobios no estádio da Luz não deve ser um "muito bom"...
Mas indo ao que interessa, o que aqui verdadeiramente está em causa é um jogo político que agrada a uma classe em particular, chama-se neoliberalismo e basicamente caracteriza-se por querer gente altamente formada e não corresponder com a sua parte, ou seja salários condizentes com essa condição. Quando o governo fala de novas oportunidades está a entrar num processo de autismo atroz, está a negligenciar que os agentes empregadores assim como o próprio governo, enquanto agente empregador, não estão sequer a dar resposta às pessoas que já investiram na sua formação. E são precisamente os individuos de formação superior os primeiros a reconhecer essa situação. Por exemplo, há minutos, ouvi no programa opinião pública da Sic Notícias uma funcionária pública de 31 anos que após a sua incursão na função pública tirou uma licenciatura e no entanto 3 anos após ter concluido essa mesma licenciatura aufere um salário de 625 €. Por outro lado ouvi também um metalúrgico de Aveiro dizer que os funcionários públicos só fazem greves e que por sua vez no privado quando o patrão não faz aumentos é porque não pode (coitadito). E nestes dois exemplos está um retrato perfeito de Portugal, um funcionário sem formação superior a dizer que outros funcionários com formação superior são uns privilegiados, apesar de alguns deles ganharem o mesmo ou menos que este. Ou seja temos um sector como a função pública atenta e consciente dos seus direitos a ser denegrida em público, enquanto se pretende um modelo privado de pessoas com baixa formação mas que digam sim ao patrão porque nem sequer percebem muito bem o que se passa. Esta é a grande vitória deste governo, depois de ter denegrido a imagem da função pública, conseguir que outros desprivilegiados movidos por sentimentos primários de mesquinhez se mobilizem no sentido de diminuir o poder de compra dos funcionários públicos. Enquanto isso os mecanismos que agudizam as assimetrias sociais ganham força e, por estúpido que pareça, têm também o apoio dos que estão na simetria oposta da riqueza. Enfim, se calhar os "fracos" vieram mesmo ao mundo para ser esmagados, ironicamente, em democracia, por eles mesmos.


1 comentário:

Anónimo disse...

A avaliação tem que ter um objectivo final: tornar as pessoas melhores. Mais eficientes, mais eficazes. E mais felizes também, porque uma pessoa que é boa naquilo que faz, sente-se bem.

A avaliação é o ponto de partida para identificar as potencialidades e os handicaps dum trabalhador, de forma a explorar as primeiras e a criar estratégias e ferramentas que diminuam os segundos. E colocar essas mesmas estratégias e ferramentas ao alcance do trabalhador (mas é claro que isto de gestão de recursos humanos é complicado e dá muito trabalho).

O sistema de avaliação por quotas distorce por completo a função de avaliação, pois encara as pessoas como números, assenta no objectivo único de as prejudicar, impedindo as progressões nas carreiras e desta forma cria uma pseudo sensação de contenção de despesas na função pública. Com uma consequência bónus: a perpetuação duma campanha que já dura há algum tempo de total descredibilização da função pública, porventura agora sustentada por factos concretos, resultado duma progressiva desmotivação por parte dos trabalhores e uma consequente má prestação de serviço público.

Isto é, obviamente um erro crasso. Um erro que se vai pagar mais tarde. E com juros.