Procurando eu sempre estar atento às realidades que se afiguram agradáveis mas que escondem realidades sombrias, ainda não vislumbrei a realidade sombria que se esconde por detrás da corrente multiculturalista e que parece ser a ameaça do novo século. Como já falei das beneces do multiculturalismo, proponho-me apenas analisar o seguinte excerto de um texto do blogue armadilhas:
"The first pitfall of Canadian multiculturalism is the assumption about the nature of ‘culture’ that underlies it. The Canadian model presumes that the ethnic diversity dilemma posed by migrating people is about reconciling cultural differences. Its ‘solution’ is to develop strategies that harmonise these differing ‘cultures’ and mitigate tensions between them. This conceptualisation implies that culture is a discrete entity with specific characteristics: that it is bounded, homogeneous, and static.
Bounded cultures rely on exclusionary principles: to be distinct from another, there must then be an ‘us’ and a ‘them’. Moreover, in order for there to be ‘cultural differences’, cultures must be different from each other and the same within themselves. In this way, ‘cultures’ have an ‘authentic’ core. And with the claim of authenticity comes the question of legitimacy: who is the legitimate representative of ‘the culture’?
(...)
The second pitfall of Canada’s approach to multiculturalism is that culture in Canada is treated as something that ‘other’ people have – namely non-white, non-English-speaking, numerically in the minority people. In the national discourse, it is French Canadians and Aboriginal people (including First Nations, Inuit and Metis) and non-white immigrants that have culture. It is their customs and language and foods and clothing – their ‘ways’ – that illustrate ‘culture’. White English Canadians are presented as the neutral backdrop against which ‘other’ people are different. Multiculturalism, then, is something that is needed for the racially different Other.
(...)
Similarly, a number of cases have been documented where ethnic minority men have been able to effectively use ‘culture’ as a defence when charged with assaulting their wives. Arguing that their abuse is ‘culturally appropriate behaviour’, men in these cases have been able to secure more lenient sentences in court. In one case, judicial comments claimed that an abusive relationship was sanctioned by the ‘South Vietnamese cultural backgrounds’ of the man and woman involved.
It is precisely because Canada has such a firm relationship with the idea that ‘multiculturalism is good’ that ‘culture difference’ is accorded so much deference. In the effort to be inclusive and respectful of differences within the context of past colonialism, present cultural imperialism, and ongoing racism, officials of the state sometimes err on the side of cultural relativism rather than universal human rights. It is here, in the space between relativism and universalism, that the threat to women’s rights sits."
A primeira falha apontada é a de que a concepção conciliadora da abordagem multiculturalista tem por base um conceito restrito e limitado de cultura, como sendo estanque e intemporal. Isto é uma falácia, basta perceber que para analisarmos uma realidade não podemos abordar todas as suas especificidades, isto já acontece nas nossas leis e constituições, legislar, regulamentar é uma generalização que tem inerente um carácter abrangente e passível de interpretação. Além demais, o que caracteriza uma cultura são as suas especificidades, logo ao apontar essa abordagem como defeito está-se a ignorar por completo aquilo que nos leva a identificar culturas.
A segunda falha será que o conceito de multiculturalismo, na abordagem Canadian, é um conceito racista, no sentido em que defende o multiculturalismo como algo necessário para outras pessoas de diferentes raças e credos, apresentando a população Canadiana Inglesa como neutra e implicitamente superior por isso mesmo. O que é anunciado aqui é uma perversão do multiculturalismo, como se fossem pessoas exteriores a determinar as culturas dos outros e não os próprios a determinar a sua cultura, mais uma vez esta é a patranha número dois, porque mistura claramente conceitos diferentes, o racismo com o multiculturalismo. Está bem patente nos pressupostos do multiculturalismo que não será reconhecida a superioridade de nenhuma cultura, este procura a conciliação de conflitos não os inventa, logo aquilo que está em causa é uma concepção racista bem distinta do conceito multiculturalista. Os problemas existem, eles têm é nomes diferentes, se o racismo se esconde por detrás de uma aparência multiculturalista não vamos culpar o multilculturalismo, não é justo...não é sério.
Mais uma vez surge o relativismo também como papão, como se tudo ficasse estúpido perante esta singela palavra. O relativismo cultural não nega valores universais como o direito à integridade física, este percebe que as culturas se afirmam pelas diferenças e que ser diferente não significa ser inferior ou superior, significa somente ser diferente. Percebemos que em certas culturas se usem trajes diferentes, se comam alimentos diferentes, se viva de maneira diferente...e aceitamos, nada disso significa tolerar a barbárie, o desrespeito pelos direitos humanos. Estamos perante um discurso radical, na medida em que não é capaz de contextualizar e balisar os termos, defender um relativismo cultural não implica negar direitos universais. Assistimos à proliferação de discursos mais ou menos eruditos, mas sempre muitos fanáticos e verticais, incapazes de perceber toda a complexidade de realidades alheias. O multiculturalismo é muito exigente, porque obriga-nos a perceber a diferença sem nunca abdicar de valores universais, infelizmente nem toda a gente pretende fazer o percurso mais difícil, prefirimos sempre o mais rápido e fácil que peca por espezinhar a diferença, quer por querer ser tudo (exclusivamente universalista) quer por não querer ser nada (relativismo absoluto).
"The first pitfall of Canadian multiculturalism is the assumption about the nature of ‘culture’ that underlies it. The Canadian model presumes that the ethnic diversity dilemma posed by migrating people is about reconciling cultural differences. Its ‘solution’ is to develop strategies that harmonise these differing ‘cultures’ and mitigate tensions between them. This conceptualisation implies that culture is a discrete entity with specific characteristics: that it is bounded, homogeneous, and static.
Bounded cultures rely on exclusionary principles: to be distinct from another, there must then be an ‘us’ and a ‘them’. Moreover, in order for there to be ‘cultural differences’, cultures must be different from each other and the same within themselves. In this way, ‘cultures’ have an ‘authentic’ core. And with the claim of authenticity comes the question of legitimacy: who is the legitimate representative of ‘the culture’?
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The second pitfall of Canada’s approach to multiculturalism is that culture in Canada is treated as something that ‘other’ people have – namely non-white, non-English-speaking, numerically in the minority people. In the national discourse, it is French Canadians and Aboriginal people (including First Nations, Inuit and Metis) and non-white immigrants that have culture. It is their customs and language and foods and clothing – their ‘ways’ – that illustrate ‘culture’. White English Canadians are presented as the neutral backdrop against which ‘other’ people are different. Multiculturalism, then, is something that is needed for the racially different Other.
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Similarly, a number of cases have been documented where ethnic minority men have been able to effectively use ‘culture’ as a defence when charged with assaulting their wives. Arguing that their abuse is ‘culturally appropriate behaviour’, men in these cases have been able to secure more lenient sentences in court. In one case, judicial comments claimed that an abusive relationship was sanctioned by the ‘South Vietnamese cultural backgrounds’ of the man and woman involved.
It is precisely because Canada has such a firm relationship with the idea that ‘multiculturalism is good’ that ‘culture difference’ is accorded so much deference. In the effort to be inclusive and respectful of differences within the context of past colonialism, present cultural imperialism, and ongoing racism, officials of the state sometimes err on the side of cultural relativism rather than universal human rights. It is here, in the space between relativism and universalism, that the threat to women’s rights sits."
A primeira falha apontada é a de que a concepção conciliadora da abordagem multiculturalista tem por base um conceito restrito e limitado de cultura, como sendo estanque e intemporal. Isto é uma falácia, basta perceber que para analisarmos uma realidade não podemos abordar todas as suas especificidades, isto já acontece nas nossas leis e constituições, legislar, regulamentar é uma generalização que tem inerente um carácter abrangente e passível de interpretação. Além demais, o que caracteriza uma cultura são as suas especificidades, logo ao apontar essa abordagem como defeito está-se a ignorar por completo aquilo que nos leva a identificar culturas.
A segunda falha será que o conceito de multiculturalismo, na abordagem Canadian, é um conceito racista, no sentido em que defende o multiculturalismo como algo necessário para outras pessoas de diferentes raças e credos, apresentando a população Canadiana Inglesa como neutra e implicitamente superior por isso mesmo. O que é anunciado aqui é uma perversão do multiculturalismo, como se fossem pessoas exteriores a determinar as culturas dos outros e não os próprios a determinar a sua cultura, mais uma vez esta é a patranha número dois, porque mistura claramente conceitos diferentes, o racismo com o multiculturalismo. Está bem patente nos pressupostos do multiculturalismo que não será reconhecida a superioridade de nenhuma cultura, este procura a conciliação de conflitos não os inventa, logo aquilo que está em causa é uma concepção racista bem distinta do conceito multiculturalista. Os problemas existem, eles têm é nomes diferentes, se o racismo se esconde por detrás de uma aparência multiculturalista não vamos culpar o multilculturalismo, não é justo...não é sério.
Mais uma vez surge o relativismo também como papão, como se tudo ficasse estúpido perante esta singela palavra. O relativismo cultural não nega valores universais como o direito à integridade física, este percebe que as culturas se afirmam pelas diferenças e que ser diferente não significa ser inferior ou superior, significa somente ser diferente. Percebemos que em certas culturas se usem trajes diferentes, se comam alimentos diferentes, se viva de maneira diferente...e aceitamos, nada disso significa tolerar a barbárie, o desrespeito pelos direitos humanos. Estamos perante um discurso radical, na medida em que não é capaz de contextualizar e balisar os termos, defender um relativismo cultural não implica negar direitos universais. Assistimos à proliferação de discursos mais ou menos eruditos, mas sempre muitos fanáticos e verticais, incapazes de perceber toda a complexidade de realidades alheias. O multiculturalismo é muito exigente, porque obriga-nos a perceber a diferença sem nunca abdicar de valores universais, infelizmente nem toda a gente pretende fazer o percurso mais difícil, prefirimos sempre o mais rápido e fácil que peca por espezinhar a diferença, quer por querer ser tudo (exclusivamente universalista) quer por não querer ser nada (relativismo absoluto).
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