Uma das formas de combate ideológico mais recorrente no momento tem a especial particularidade de não debater a ideologia em si. Digamos que debater ideologias é um exercício desgastante e (deve e pode ser) muito esclarecedor, nada que se queira numa luta ideológica. Ora, esta batalha atinge agora o seu expoente mais alto porque existem uns "sul americanos" que andam a tramar os ocidentais, isto porque querem ser pagos pela suas riquezas naturais...malditos ditadores. Mas a luta é mesmo ideológica, nem sequer é uma luta racional pelo acesso aos recursos petrolíferos, e isto é demonstrável pelas razões mais simples. No contexto político internacional um dos acontecimentos mais relevantes tem sido a ocupação por parte dos EUA do Iraque, esta ocupação visa garantir aos EUA uma posição estratégica no controlo dos recursos petrolíferos. Esta ocupação é também claramente contra-producente aos interesses da Europa no acesso aos recursos petrolíferos, isto porque os EUA garantem a sua supremacia económica num mercado liberal precisamente sendo anti-liberais, garantindo a concentração (relembre-se que o monopólio e concentração é anti-liberal por ir contra a livre concorrência e é argumento de combate à propriedade estatal) de grande parte da matéria prima mais importante para os países desenvolvidos e criando quotas à entrada de produtos estrangeiros (o proteccionismo é escandalosamente anti-liberal). Mas ninguém (por ninguém entenda-se estes democratas de última hora) se lembra de acusar os EUA de serem perigosos socialistas que se protegem do mercado livre, ou até de ditadores que matam milhares de civis inocentes com propósitos hegemónicos, nada disso, são aliados, são "amiguinhos" dos Europeus, apesar de a sua estratégia consistir precisamente em controlar o crescimento económico europeu através do controlo das matérias primas necessárias à indústria. Ou seja, se calhar todas as recentes preocupações sobre o que se passa na Venezuela e Bolívia não sejam apenas preocupações estratégicas, porque em boa verdade grandes potências têm marcado posição induzindo distúrbios nas relações comerciais: a China desrespeitando atrozmente direitos civis e laborais básicos, os EUA e Inglaterra matando civis por hegemonia de recursos naturais, a Rússia através dos seus gasodutos e oleodutos... Mais, no programa Prós e Contras desta segunda-feira, a Arábia Saudita foi apontada como um bom exemplo nas suas relações externas comerciais, mas, curiosamente, nesse exemplo, as preocupações com a democracia desapareceram por completo. Então até fica difícil de perceber, afinal qual é a lógica inerente, tanto aceitamos países que usam os recursos energéticos como forma de nos controlar (EUA), como países que facilitam o acesso a esses recursos mas que ainda executam decapitações e são monarquias absolutas (aka ditadura da Arábia Saudita)? Então mas afinal em que ponto fica a Venezuela? E a Bolívia? A Bolívia é com certeza bem mais democrática que a Arábia Saudita, e até a Venezuela o será...pois é, isto é uma luta ideológica pura e dura, sem apelo nem agrado nem racionalidade à vista. É que as economias ocidentais tentam à força toda confundir democracia com privatizações e mercado livre, mas, em bom rigor, um país que opte através do sufrágio universal por políticas de nacionalização dos seus recursos também o é, mas as democracias ocidentais não parecem querer aceitar esta "estranha vontade democrática". É mesmo isto que se pode inferir das recentes discussões em torno desta nova realidade, havendo um historial de países ricos em recursos naturais e pobres em democracia e direitos humanos e havendo outros países que usam o controlo dos recursos naturais como reforço de poder na política internacional, o que torna estes casos tão especiais e polémicos? Pois claro, o alarme da ameaça ao modelo neo/liberal, a ideia de que uma democracia pode erguer um país socialista em que os recursos e riquezas naturais são nacionalizados e usados para distribuir riqueza na sociedade tem de ser destruída e catalogada de ditadura, mesmo antes de o ser. Convém esclarecer que não estou com isto a acreditar altos níveis de democracia nestes dois países, especialmente na Venezuela parecem emergir sérias ameaças à democraticidade deste país, aquilo que me recuso fazer é ao reconhecer os riscos e ameaças à democracia na Venezuela não o fazer sem antes me demarcar e desmascarar o que está implícito nestes discursos de "democratas de última hora".
quinta-feira, novembro 22, 2007
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