Não será grande novidade se eu disser que quando se fala de dinheiro fica tudo estúpido, sim de dinheiro, porque em lado algum será razoável que num processo de avaliação o acesso às melhores qualificações esteja à partida limitada. Se eu dissesse que nas universidades as notas superiores a 17 estivessem à partida vedadas a 75% dos alunos toda a gente achava ridículo, não é sério num processo de avaliação "ter vagas" para notas, por uma razão simples, isso inquina o processo avaliativo em si. Caso exista mais de 25% de indivíduos com essa classificação, o avaliador vai ter de inquinar o processo de avaliação para poder satisfazer o critério mor de vedar esse acesso aos demais.
Mas as quotas na avaliação pública não são mais que uma fantochada do governo para poupar dinheiro em ordenados de funcionários públicos, a este processo desonesto de contenção orçamental o governo teima em apelidar de reforma. Para já se o governo gosta tanto de excelência e preza tanto as avaliações não sei porque ignora a própria avaliação que muitos portugueses parecem fazer deste governo. Assobios no estádio da Luz não deve ser um "muito bom"...
Mas indo ao que interessa, o que aqui verdadeiramente está em causa é um jogo político que agrada a uma classe em particular, chama-se neoliberalismo e basicamente caracteriza-se por querer gente altamente formada e não corresponder com a sua parte, ou seja salários condizentes com essa condição. Quando o governo fala de novas oportunidades está a entrar num processo de autismo atroz, está a negligenciar que os agentes empregadores assim como o próprio governo, enquanto agente empregador, não estão sequer a dar resposta às pessoas que já investiram na sua formação. E são precisamente os individuos de formação superior os primeiros a reconhecer essa situação. Por exemplo, há minutos, ouvi no programa opinião pública da Sic Notícias uma funcionária pública de 31 anos que após a sua incursão na função pública tirou uma licenciatura e no entanto 3 anos após ter concluido essa mesma licenciatura aufere um salário de 625 €. Por outro lado ouvi também um metalúrgico de Aveiro dizer que os funcionários públicos só fazem greves e que por sua vez no privado quando o patrão não faz aumentos é porque não pode (coitadito). E nestes dois exemplos está um retrato perfeito de Portugal, um funcionário sem formação superior a dizer que outros funcionários com formação superior são uns privilegiados, apesar de alguns deles ganharem o mesmo ou menos que este. Ou seja temos um sector como a função pública atenta e consciente dos seus direitos a ser denegrida em público, enquanto se pretende um modelo privado de pessoas com baixa formação mas que digam sim ao patrão porque nem sequer percebem muito bem o que se passa. Esta é a grande vitória deste governo, depois de ter denegrido a imagem da função pública, conseguir que outros desprivilegiados movidos por sentimentos primários de mesquinhez se mobilizem no sentido de diminuir o poder de compra dos funcionários públicos. Enquanto isso os mecanismos que agudizam as assimetrias sociais ganham força e, por estúpido que pareça, têm também o apoio dos que estão na simetria oposta da riqueza. Enfim, se calhar os "fracos" vieram mesmo ao mundo para ser esmagados, ironicamente, em democracia, por eles mesmos.
quarta-feira, julho 11, 2007
A nova moda de excelência..quotas
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1 comentário:
A avaliação tem que ter um objectivo final: tornar as pessoas melhores. Mais eficientes, mais eficazes. E mais felizes também, porque uma pessoa que é boa naquilo que faz, sente-se bem.
A avaliação é o ponto de partida para identificar as potencialidades e os handicaps dum trabalhador, de forma a explorar as primeiras e a criar estratégias e ferramentas que diminuam os segundos. E colocar essas mesmas estratégias e ferramentas ao alcance do trabalhador (mas é claro que isto de gestão de recursos humanos é complicado e dá muito trabalho).
O sistema de avaliação por quotas distorce por completo a função de avaliação, pois encara as pessoas como números, assenta no objectivo único de as prejudicar, impedindo as progressões nas carreiras e desta forma cria uma pseudo sensação de contenção de despesas na função pública. Com uma consequência bónus: a perpetuação duma campanha que já dura há algum tempo de total descredibilização da função pública, porventura agora sustentada por factos concretos, resultado duma progressiva desmotivação por parte dos trabalhores e uma consequente má prestação de serviço público.
Isto é, obviamente um erro crasso. Um erro que se vai pagar mais tarde. E com juros.
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