quinta-feira, maio 18, 2006

Especulações económicas(2)


Ora depois de abordar a problemática da virtualidade do dinheiro e consequente facilidade de deslocamento, cabe-me também dizer que mesmo quem produz também não está a desempenhar um papel muito social na questão. Isto porque quando o Sócrates fala em investimento e etc está implícita a palavra emprego, mas sejamos um bocadinho menos pategos e pensemos na mentalidade de tais benfeitores e que tipo de empresas é que têm a capacidade de fazer investimentos internacionais. Ora as empresas que têm tal capacidade são precisamente as que crescem a nível interno e assim ganham condições para a sua globalização, ora as empresas que crescem normalmente fazem o quê?
Pois é, reduzem os quadros médios, ficam com pequenos quadros de pessoal altamente qualificado, ou seja as empresas que eventualmente investirem em Portugal fizeram uns despedimentos noutra parte do globo. Portanto o nosso mal tem de ser o dos outros, caso contrário cada vez mais a democracia e justiça social ficam reféns de quem tem poder económico (meios de produção). E podemos até pensar que o caminho passa por ter gente mais qualificada, com certeza que esse é um caminho desejável mas só valerá a pena se regularmos a actividade no sentido de dar garantias aos trabalhadores, sim isso mesmo as malditas garantias que os neoliberais tanto vociferam contra apesar de não dispensarem umas boas acumulações de reformas. Se não assumirmos que os agentes económicos têm um papel de responsabilidade na sociedade, podemos até ter um país com pessoal altamente qualificado que o desemprego continuará. Aliás os próprios empregadores desejam a massificação de pessoal qualificado, isto porque como estamos num esquema capitalista as pessoas (mercadoria) passam a valer menos visto haver muitas em stock, lá está a questão da procura e da oferta, no entanto não esqueçamos que aqui a mercadoria são pessoas, talvez devêssemos andar embalados com o rótulo de frágil, sendo que seríamos também descartáveis...

Se eu disser que uma empresa se rege numa lógica de lucro ninguém se escandaliza, pois não???
Ora, nessa mesma lógica porque raio vem uma empresa investir para Portugal? Pois claro, só vem se o pessoal for mal pago e produtivo q.b., porque raio vai a nike para o Paquistão?
Porque raio é que os países pobres parecem exportar tantos produtos??
Pois claro, um país pobre é uma mina de ouro, baixos salários, produtividade e ausência de direitos laborais, até o capitalista mais estoicista perde a cabeça...
O capitalismo achou uma mina de ouro num regime comunista, isso mesmo a China. A China é um regime comunista no entanto exerce de forma bastante invejável para o capitalismo a devoração de direitos sociais que é tão profícua ao lucro. Se aquilo é esquerda, eu quero ser de direita, porque lutar por ser competitivo a nível internacional através da erosão dos direitos sociais é a derrota da sociedade e é apanágio da direita. A esquerda com que me identifico é aquela que exerce sempre projectos de gestão em que se faz o caminho possível, o mais difícil se preciso, para garantir que toda a actividade humana é feita em prol do ser humano. O fenómeno perverso que se verifica é que a globalização, apesar dos imensos aspectos positivos, permite que empresas sempre que confrontadas com exigências laborais dêem á sola para o próximo país pronto a baixar as calcinhas, com sorte um desses países será o nosso. Assim sendo esperamos de quatro pela empresa que esteja satisfeita com o nível de deterioração dos nossos direitos laborais, para assim poderem exercer o seu projecto lucrativo e podermos aprovar este governo por longos anos sempre agradecidos por haver quem nos tenha obrigado a ser enrabados, sabendo que no fundo era para o nosso bem, porque sabemos que todo o projecto democrático é conjuntural e joga-se a democracia com os ciclos económicos e não com a garantia de que alguma possamos ter um projecto económico-social acíclico e justo.
Parece-me que a solução deste fenómeno perverso da globalização está também na própria globalização, globalizemos os direitos sociais e sejamos consumidores atentos e críticos...que democracia chegue ao mercado de trabalho.

2 comentários:

Inês disse...

só uma coisinha: as empresas transnacionais (ETN) procuram vantagens comparativas em cada país onde se instalam. elas dividem o processo produtivo para assim conseguirem reduzir os custos de produção (porque, lá está, querem o lucro). encontram mão-de-obra barata e legislação laboral e ambiental (demasiado) permissiva nos países em vias de desenvolvimento (e muito nos NPI's, se bem que estes têm a qualificação do produz-bem-e-rápido-e-cala) para as fases do processo produtivo onde o "conhecimento" não é tão necessário. fases de trabalho intensivo. para os países ditos desenvolvidos restam fases que envolvem uma tecnologia mais avançada e uma maior qualificação do trabalhador (onde vale a pena, na óptica do capitalista, gastar mais uns trocados em salários e quiçá em condições de trabalho e em tratamento de efluentes).

em Portugal a mão-de-obra não é lá muito qualificada, principalmente se compararmos com a China, que, como dizes, é um paraíso para qualquer capitalista. mas daí a ceder direitos laborais (e sociais) para atraír investimento dessas "adoráveis" ETN's, iria um bocadinho (iria, porque nos dias de hoje...).

as adoráveis ETN's, com rendimentos superiores aos de muitos países ficam com governos na palminha das mãos e essa é uma das maiores causas da inoperância governativa nos países em vias de desenvolvimento (as outras serão o endividamento e , claro está, a corrupção). assim, vão caíndo (ou não se erguem) direitos laborais e legislação ambiental.

a propósito, eu tenho um certo orgulho no meu país e fico mal disposta quando empresas ameaçam deslocalizar fábricas se o governo as obrigar a pagar multas pela elevada poluição que produzem... triste, é. só me apetece dizer: "então bazem!", mas e os postos de trabalho?

enfim, bom bom era não vivermos num mundo de capitalismo desenfreado...


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